Traoré é o Legítimo Herdeiro de Sankara
Há alguns dias, esquerdistas liberal-progressistas ocidentais (ou ocidentalizados, como no Brasil) tiveram ataques histéricos e chiliques agudos após Ibrahim Traoré, condutor popular de Burkina Faso, consagrar em lei os valores espirituais, morais e culturais do povo burquinabe, que excluem a possibilidade de uniões e relações entre pessoas do mesmo sexo.
Imediatamente, esquerdistas que até então eram "fãs" de Traoré se disseram "decepcionados" e começaram a vociferar ataques e acusações racistas contra Traoré e a nova geração de líderes nacionalistas africanos. Outros, funcionários pagos de ONGs ocidentais, os consolaram com mensagens de "eu avisei", "quem mandou confiar em militar", etc.
Em seguida, como zumbis, além de palpitar sobre como ele deveria governar o próprio país, começaram a dizer que Traoré não tinha "nada a ver com Thomas Sankara".
Talvez o Thomas Sankara do imaginário do esquerdista contemporâneo seja um crossdresser furry agênero, mas ele apenas era um homem que acreditava na igualdade entre homens e mulheres, e ponto final. E de resto, acreditava que as tradições africanas tinham uma dimensão positiva que deveria ser aproveitada pela revolução nacionalista.
Não obstante, Sankara tinha as limitações inevitáveis da época em que ele viveu, das condições precárias do seu país, da oposição externa e interna e da ideologia marxista que ele tentou seguir.
Traoré, portanto, representa inevitavelmente a superação histórica de Sankara. Ele segue Sankara, mas vai além, indo até onde ele não poderia ir por conta das limitações inevitáveis supracitadas.
Em primeiro lugar, Traoré reconhece a importância de Sankara e presta tributo a ele, construindo ao seu redor um "culto ao herói". Ele reenterrou Sankara em um mausoléu à altura de sua dignidade, nomeou-o "herói da pátria" e lhe devotou inúmeras outras honrarias, todas elas reconhecidas e saudadas pela família de Sankara.
Imediatamente, ele foi à luta para resgatar seu povo da sujeição abjeta. Reduziu o próprio salário e de todos os ministros, políticos e altos burocratas do Estado. Logo estava cancelando as concessões das mídias estatais francesas em seu território - as quais eram a principal mídia de Burkina Faso. Em questão de meses, as tropas francesas que ocupavam o país, estavam expulsas.
Ao contrário daqueles que dizem que Burkina Faso virou "colônia" da Rússia, Traoré engatou um projeto de construção de uma Confederação junto ao Mali e ao Níger, projeto que reduzirá a dependência desses países em relação a quaisquer potências extra-africanas.
Fábricas novas começaram a se multiplicar nos últimos 2 anos. Burkina Faso importava tudo que se pode imaginar. Abriu-se, por exemplo, uma fábrica de uniformes, porque até os uniformes policiais e militares vinham da França. Abriu-se uma refinaria de ouro para agregar valor ao ouro, porque até então Burkina só exportava o minério bruto. Depois, Burkina abriu uma instalação para o tratamento dos resíduos da mineração, a primeira do país - e as máquinas da instalação foram construídas na própria Burkina, de modo que o país é o 2º da África a dominar essa tecnologia.
Agora, Burkina Faso assinou com a Rússia um acordo para a construção de uma usina nuclear, refutando uma vez mais o mito da "Burkina colônia da Rússia".
Traoré, ademais, está investindo na agricultura em busca da autossuficiência alimentar de Burkina Faso, já que o país até então importava comida, mesmo com 80% de sua mão-de-obra empregada na agricultura. Traoré adquiriu por preço baixo máquinas agrícolas indianas e alocou centenas delas para empreendimentos agrícolas nacionais, com o objetivo de aumentar a sua eficiência.
E ele faz tudo isso enquanto enfrenta e derrota os grupos jihadistas que se espalharam pelo país com o apoio tácito do Ocidente após a destruição da Líbia, sem falar no esforço de renovação do alto oficialato militar e do serviço secreto burkinabe - já que Traoré pertence a uma pequena confraria de camaradas militares, todos eles tenentes ou capitães, da unidade "Cobra", uma força de elite burquinabe criada em 2019 para atuar nas zonas mais perigosas do país, nos territórios controlados pelos grupos terroristas mais fortes.
Ao contrário do que muita gente pensa, o alto oficialato militar burquinabe é francófilo e pertence à elite compradora africana.
Tudo isso para esquerdoides ocidentais descerebrados insultarem o trabalho de Traoré apenas porque ele está sendo, de fato, um anti-imperialista consequente ao rejeitar os projetos de engenharia social e cultural gestados no Ocidente.
A realidade, é que Traoré representa a superação de Sankara inclusive no âmbito ideológico. Sankara ainda era vítima das armadilhas do materialismo, enquanto Sankara concluiu a síntese entre Tradição e revolução de uma maneira mais satisfatória do que Sankara, o que se expressa hoje em seu pan-africanismo, em sua geopolítica multipolarista, seu soberanismo militar e no seu tradicionalismo profundamente espiritual.