Eleições no Irã
Há alguns dias transcorreram eleições legislativas no Irã. Essas eleições tinham como propósito eleger não apenas os deputados da Assembleia Consultiva (o Parlamento) como também os membros do Conselho dos Especialistas.
O sistema político iraniano exerce grande fascínio sobre mim. É o que se tem, hoje, de mais próximo às concepções políticas da República de Platão.
O já mencionado Conselho dos Especialistas, por exemplo, composto exclusivamente de homens sábios pertencentes à estrutura religiosa nacional, é o responsável por, além de supervisionar e eleger o Líder Supremo.
E considerando que o Aiatolá Ali Khamenei já está com 84 anos de idade, essas eleições se revelam maximamente importantes. Como a eleição da Assembleia dos Especialistas só ocorre de 8 em 8 anos, é provável que seja a atual composição a responsável por selecionar o próximo Líder Supremo do Irã – o que se dará precisamente na era de transição multipolar.
Apenas como adendo: hoje os nomes mais contados para suceder Khamenei são Ebrahim Raisi (o atual presidente), Alireza Arafi (membro do Conselho de Guardiões, do Conselho de Especialistas e ex-Reitor da Universidade Al-Mustafa), Sadeq Larijani (membro do Conselho de Especialistas, ex-Presidente da Suprema Corte, ex-membro do Conselho de Guardiões) e Mohsen Araki (membro do Conselho de Especialistas).
Mojtaba Khamenei, Comandante (extraoficial) das Forças Basij, filho do atual Líder Supremo, corre por fora, mas é considerado pouco douto em assuntos teológicos para ser já considerado candidato favorito.
Naturalmente, ao modo platônico, tanto os candidatos à Assembleia Consultiva quanto os candidatos ao Conselho de Especialistas são previamente aprovados pelo Conselho dos Guardiões, órgão responsável por salvaguardar os princípios da Tradição tal como cristalizados na Revolução Islâmica do Irã.
O Conselho dos Guardiões, de sua parte, é composto metade por clérigos indicados pelo Líder Supremo e metade pelo Presidente da Suprema Corte.
Essas eleições, que se deram durante tensões internacionais e tentativas de boicote por parte da oposição atlantista, transcorreram em tranquilidade. A participação foi de 42% – relativamente baixa, mas expressa também tranquilidade e conforto em relação ao transcurso do país e ausência de desejo por mudanças.
Com o país sob cerco, o Conselho dos Guardiões decidiu por promover a consolidação nacional ao redor de lideranças tradicionalistas, de modo que foram elas as vitoriosas, de forma acachapante, tanto na Assembleia Consultiva quanto no Conselho de Especialistas.
Às portas da guerra, nenhum país deve tolerar a ameaça de se fragmentar no dissenso da parlapatice política liberal. A pátria necessita de decisões rápidas e consensuais, bem como de clareza quanto aos melhores interesses do povo (o que hoje significa decidir sempre na linha multipolarista e tradicionalista).
O Ocidente, naturalmente, acusa as eleições de serem inválidas, uma farsa, e toda a litania de acusações cansativas de sempre.
Mas a república (platônico-)islâmica do Irã respira com tranquilidade.