Eleições presidenciais brasileiras
Uma economia em queda, os efeitos do coronavírus, o aumento da criminalidade e uma série de outros fatores sociais afetaram as campanhas de todos os candidatos. O presidente em exercício Jair Bolsonaro e o antigo líder sindical e ex-presidente Lula da Silva chegaram ao segundo turno da disputa pela presidência do Brasil.
A polarização da sociedade tem tido expressão nos mais variados estratos sociais. Bolsonaro é favorecido por evangélicos, conservadores e pelas forças militares e de segurança em geral. Ele prometeu criar mais empregos, aumentar a presença militar na Amazônia, diversificar as relações internacionais (Rússia, Arábia Saudita, China, Irã e Índia estão entre os países designados), proteger a lei e a ordem (reforçando as polícias e demais forças de segurança) e reforçar os valores familiares tradicionais.
Com Lula estão as camadas marginalizadas da população, a classe média empobrecida e saudosa pelo tempo em que pôde saborear as delícias da vida, que pôde saborear durante o boom dos commodities (do qual se beneficiaram os mandatos presidenciais de Lula) e os brasileiros residindo no estrangeiro. Lula nem sequer tinha um programa eleitoral enquanto tal quando foi eleito presidente em 2002, mas apenas um conjunto de frases de efeito e promessas como as de aumento dos benefícios sociais, apoio aos estudantes e aos desempregados, aumento dos impostos para os ricos e fim das privatizações. Na política externa do seu governo, destacaram-se a continuação do curso para a integração continental (o que não é ruim), estreitamento de laços com a China e melhoria das relações com a UE e os EUA. Depois há também o avanço em pautas de “tolerância” e “inclusividade.”
No espaço midiático do Brasil, Lula foi amplamente favorecido. O fato é que a grande mídia tem estado ressentida com Bolsonaro desde 2018. Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Veja e outros veículos renomados começaram a promover sistematicamente a candidatura de Lula no espaço midiático. A agência Datafolha, propriedade da Folha, prejudicou ativamente Bolsonaro enquanto promovia Lula.
As áreas mais importantes no país permanecem sob o controle do Partido Liberal (PL) de Bolsonaro; Cláudio Castro, aliado do atual presidente, obteve reeleição no Rio de Janeiro com 58% dos votos. No entanto, há nuanças bastante interessantes nas eleições brasileiras; o antigo Ministro da Justiça Sergio Moro, por exemplo, foi eleito e será senador pelo estado do Paraná até 2030. Moro parece ser uma figura bastante desconfortável tanto para Lula como para Bolsonaro. Em 2018, ele processou pessoalmente Lula, garantindo que esse fosse preso. Em 2020, opôs-se a Bolsonaro quanto à mudança do chefe da Polícia Federal, tornando-se crítico feroz do presidente.
Os grandes partidos no Congresso (513 cadeiras) são:
1. Partido Liberal (PL): 98
2. Partido dos Trabalhadores (PT): 68
3. União Brasil (UNIÃO): 57
4. Partido Progressista (PP): 47
5. Movimento Democrático Brasileiro (MDB): 42
6. Partido Social Democrata (PSD): 40
7. Republicanos (REP): 39
Na sua configuração atual, o PL de Bolsonaro, unindo-se a partidos centristas como o União, poderia facilmente formar tanto uma coligação para governar (caso vença Bolsonaro) como um grande bloco de oposição (caso vença Lula).
Os resultados e prospectos de Lula são muito piores. Na melhor das hipóteses, ao juntar-se a outros partidos de centro-esquerda e de esquerda, Lula poderá contar com apenas 130 cabeças no Congresso.
Os grandes partidos no Senado (81 cadeiras) são:
1. Partido Liberal (PL): 14
2. Partido Social Democrata (PSD): 12
3. Movimento Democrático Brasileiro (MDB): 10
4. União Brasil (UNIÃO): 10
5. Partido dos Trabalhadores (PT): 9
Também aqui, Jair Bolsonaro está em posição bem superior. A questão é apenas formar a coligação certa.
Claro que, para a Rússia, importa o caminho que o Brasil escolher a médio prazo. E embora, no caso de outros países, se possa falar de uma clara preferência por um ou outro candidato, o caso do Brasil é mais complicado.
Nos anos 2000, Lula apresentou-se como um aliado da Rússia. As relações com os demais países do BRICS foram desenvolvidas e os laços bilaterais foram reforçados. Lula foi também crítico do imperialismo e, como bom porta-voz do Partido dos Trabalhadores (PT), favoreceu uma agenda esquerdista moderada. No entanto, relativamente recentemente, Lula pronunciou-se veementemente contra a operação especial russa na Ucrânia. Não houve clareza necessária para definir se a fala foi sincera ou se estava apenas tentando parecer “comportado.”
Lula foi apoiado pelo Partido Democrata dos EUA, que vê um segundo mandato de Bolsonaro, amigo pessoal de Donald Trump e dos conservadores europeus, como indesejável. A propósito, a Open Society de George Soros também apoia ativamente a candidatura de Lula e dá-lhe apoio midiático. Em função disso, Lula prometeu reforçar a posição da comunidade LGBT do Brasil e expandir a agenda ambiental verde.
Claramente, a Rússia não é prioridade para um Brasil sob Lula, embora ele venha a ser forçado a cooperar com ela na questão dos produtos petrolíferos e fertilizantes, dos quais ela é sua principal fornecedora. Se a UE e os EUA conseguirem convencer Lula a não ser amigável com a Rússia, ele provavelmente dirá “amém” em troca de investimentos e assistência técnica para projetos infraestruturais.
Bolsonaro, porém, parece ser um candidato mais “pró-russo” nesse sentido. Ele visitou recentemente a Rússia, o que não foi o caso do nosso “amigo de longa data” Lula. Ademais, na recente votação do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil de Bolsonaro, juntamente com a China e a Índia, absteve-se sobre a resolução anti-russa introduzida pelos EUA. Este caso é também ilustrativo.
No fim das contas, com quem quer que ganhe, a Rússia terá de trabalhar, favorecendo sempre o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de outros países e encorajando o anticolonialismo.
Fonte: Katehon