Quem está por trás da Mudança de Guarda na Síria?

13.12.2024
Quem está por trás da Mudança de Guarda na Síria?

As notícias vindas da Síria são trágicas, mas muitos comentários ocidentais são marcados por satisfação, o que não surpreende. A queda do “ditador” não ensina nada àqueles que testemunharam o desastre ocorrido na Líbia, no Iraque ou, talvez, na Somália. O habilidoso al-Jolani, sobre cuja cabeça ainda paira – ao que parece – uma recompensa de dez milhões de dólares, lidera uma formação chamada Hayat Tahrir al-Sham (“Organização para a Libertação do Levante”), oficialmente reconhecida como organização terrorista pelos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e outros. E foi a HTS, uma multinacional da guerrilha e do terror, herdeira da al-Nusra e da al-Qaeda, que liderou os “rebeldes” até Damasco, com um ataque que surpreendeu o mundo por sua impressionante intensidade. Mas quem está por trás da HTS e dos outros militantes armados?

Nas análises, um nome parece prevalecer sobre os outros: a Turquia. Contudo, os laços de Ancara com a “oposição armada síria” dizem respeito principalmente ao chamado Exército Nacional Sírio (antigo Exército Sírio Livre), que gradativamente se reposicionou com uma função anticurda, ou seja, contra os terroristas do YPG, o ramo sírio do PKK que sempre ameaçou a Turquia.

Naturalmente, isso não exclui a possibilidade – bastante plausível – de que o Exército Nacional Sírio, considerando o colapso do regime de Assad, agora se alinhe aos rivais do Hayat Tahrir al-Sham, buscando tirar proveito da situação.

Entretanto, como reiterado por políticos e militares turcos, não foi a Turquia quem planejou e executou o plano iniciado em 27 de novembro, um plano que surpreendeu a todos pela rapidez de sua execução. Ancara não tem nada a ganhar com o caos generalizado que agora eclodirá na Síria, com guerrilheiros sanguinários já controlando Kasab e o posto fronteiriço com a Turquia. Afinal, os turcos não poderiam ter esquecido a lição de 2011 e dos anos seguintes: o desastre de uma guerra não apoiada pela opinião pública e o enorme problema dos refugiados só poderiam desaconselhar novas aventuras.

Quem, de fato, foi o principal protagonista dessa situação foi Israel, que, especialmente após 7 de outubro de 2023, trabalhou sistematicamente e diariamente para enfraquecer a Síria com bombardeios, ameaças e agressões. Agora, com a inesperada queda de Damasco, o exército de Tel Aviv imediatamente reforçou suas posições nas Colinas de Golã, ocupando a zona de amortecimento e posicionando-se na Linha Alpha, na fronteira com a Síria. Mas, o mais importante, Israel desferiu um golpe significativo em todo o Eixo da Resistência, eliminando o inimigo sírio após já ter enfraquecido o Hezbollah e o Irã, que se viram impossibilitados de intervir prontamente em defesa de Damasco. Muito pouco pôde fazer também a Rússia, cujos esforços de mediação entre Síria e Turquia em busca de uma solução política compartilhada se mostraram decepcionantes e, de qualquer forma, tardios. Agora, até Latakia e Tartus estão prestes a serem perdidas, o que não é pouca coisa.

O vencedor – destaca o sempre bem informado “Shalom” – é Israel: “A queda de Assad é uma vitória de Israel. Foi o desmantelamento do Hezbollah e a destruição das defesas aéreas do Irã que permitiram aos rebeldes tomar a iniciativa e vencer.”

“Shalom” sugere a conexão turca como responsável pela operação (afinal, trata-se de alianças com qaedistas… nada recomendáveis): “A vitória dos rebeldes sírios foi logisticamente e politicamente apoiada pela Turquia, que tem ambições imperiais neo-otomanas na Ásia Central, no Mediterrâneo e no Oriente Médio, com tom cada vez mais agressivo em relação a Israel.” Os turcos imperialistas e antissemitas, portanto, seriam os idealizadores. Por outro lado, se forem verdadeiras as declarações atribuídas aos líderes do Exército Nacional Sírio, os únicos alvos da ação seriam Assad e o Irã, e a nova Síria caminharia para uma paz total com Israel…

Fonte

Tradução de Raphael Machado