Entendendo o nazismo ucraniano

26.02.2022
A mídia de massa no Ocidente, lacaia da Casa Branca, nega as acusações de Putin sobre o nazismo na Ucrânia. Mas quais as bases do nazismo ucraniano? Quais as relações entre o governo de Kiev e as milícias? Quais os paralelos com o 3º Reich alemão? Lucas Leiroz discute estas questões no texto a seguir.

No ocidente, os meios de comunicação afirmam que a agenda da Rússia para “desnazificar” a Ucrânia é infundada. Ao mesmo tempo, a opinião pública nos países ocidentais é totalmente alienada para com a realidade Ucraniana, inclinada a acreditar apenas no que é relatado pela mídia hegemônica. O resultado disso é uma forte desaprovação da atitude russa baseada na mentira de que não há vestígios do Nazismo na Ucrânia contemporânea. Nesse sentido, é urgente que informações de qualidade sejam divulgadas ao público ocidental, para evitar a proliferação de mentiras sobre a realidade ucraniana.

Em quase todos os canais de TV e jornais do Ocidente, o nazismo ucraniano é questionado com os piores argumentos possíveis: Zelensky é judeu e o estado ucraniano é democrático. Esse tipo de pensamento superficial impede uma análise detalhada da situação catastrófica em Kiev desde o Maidan, quando, por meio de um golpe de Estado, uma junta anti-russa assumiu o poder e institucionalizou uma ideologia racista e anti-russa, que perdura até os dias atuais.

Quando falamos de “nazismo ucraniano”, não estamos falando que Kiev é uma cópia comtemporânea da Berlim de Hitler, mas que o elemento neonazista é um ponto fundamental da Ucrânia pós-2014. O golpe do Maidan foi abertamente apoiado e financiado pela OTAN como forma de minar qualquer influência russa no próprio ambiente estratégico de Moscou. O objetivo era tornar a Ucrânia um estado fantoche, comandado por Washington, encerrando qualquer vínculo com a Rússia. Não havia apenas o objetivo de aniquilar as relações políticas, econômicas e diplomáticas entre Kiev e Moscou, mas também eliminar os laços culturais, étnicos, religiosos e linguísticos entre as duas nações.

Desde então, planos anti-russos foram implementados. Os russos étnicos foram perseguidos nos últimos oito anos, até mesmo através do extermínio sistemático em algumas regiões. A língua russa foi criminalizada em cidades inteiras onde a população não fala ucraniano. Cismas na Igreja Ortodoxa foram apoiados para formar uma “igreja nacional” ucraniana fora do Patriarcado de Moscou. Mas a questão permanece: como isso foi possível se ucranianos e russos são povos tão próximos?  Muitos ucranianos falam russo e casam-se com russos étnicos, além do fato de que a maioria da população do país segue a Igreja Ortodoxa. Então, como foi possível iniciar uma política racista tão bem sucedida?

Esta certamente foi uma das maiores preocupações dos planejadores de Maidan. E a resposta está no elemento nazista, que foi muito bem elaborado por Arsen Avakov, Ministro do Interior durante o governo Poroshenko. Avakov iniciou um processo de instrumentalização de milícias neonazistas que apoiaram Maidan, tornando esses grupos extremistas pontos chave na defesa do novo regime ucraniano. No Ocidente, devido à ignorância coletiva sobre a história eslava, muitas pessoas pensam que o racismo nazista era restrito aos judeus, mas na verdade, o ódio anti-russo era uma das maiores locomotivas da Segunda Guerra Mundial, tendo levado Hitler à decisão irracional de invadir e tentar anexar a URSS. Esse sentimento está vivo nessas milícias neonazistas, que estão literalmente prontas para fazer qualquer coisa para aniquilar os russos, sendo muito mais fanáticas em suas convicções racistas do que as forças armadas ucranianas.

Grupos como o Batalhão Azov, C14 e as milícias armadas de partidos de direita como Pravyy Sektor e Svoboda operam livremente na Ucrânia e são os maiores responsáveis pelo extermínio de russos étnicos no Donbass. Esses grupos agem com mais violência e usam equipamentos mais sofisticados que as próprias forças armadas Ucranianas, sendo a verdadeira face da brutalidade anti-russa de Kiev. Como neonazistas, essas milícias não têm obstáculos para cumprir o objetivo do governo de destruir quaisquer laços entre russos e ucranianos, sendo assim os principais aliados da era Maidan.

Em um relatório da Freedom House de 2020: “A New Eurasian far right rising”, é dito que a extrema direita é um dos elementos mais fortes e influentes da sociedade ucraniana hoje, sendo uma força política sofisticada, altamente profissional e visível. Em outras palavras, o que seriam grupos urbanos violentos e criminosos em outras partes do planeta, foram convertidos por Kiev em uma força armada paralela pró-Maidan. A inspiração para esse modelo de ação vem do nazismo original: a Schutzstaffel (SS) foi uma das maiores forças armadas políticas alemãs durante as décadas de 1930 e 1940. O grupo não fazia parte das Forças Armadas alemãs, mas sim uma milícia paramilitar instrumentalizada pelo governo, afora das tropas oficiais. Havia um grande objetivo estratégico com isso: enquanto os militares alemães eram comandados pelo governo, as SS lutavam pelo Partido Nazista e por Hitler – ou seja, se a Alemanha se rendesse, as SS declarariam guerra aos militares alemães. Esse tipo de “blindagem dupla” militar é o mesmo que Kiev implementou: se um dia um governo pró-russo for eleito, as milícias neonazistas declararão guerra a Kiev- e serão forte o suficiente para derrotar as tropas oficiais da mesma forma que a SS era mais forte do que as forças armadas alemãs.

É necessário notar que esses grupos operam não apenas na esfera da força militar, mas também no campo cultural, fomentando o ódio anti-russo entre os ucranianos comuns. A exaltação de Stepan Bandera (lider nacionalista anti-soviético ucraniano que colaborou com a Alemanha Nazista) é um dos sintomas disso. Antes do Maidan, Bandera era um nome como qualquer outro na história ucraniana, mas passou a ser lembrado e venerado como um herói nacional por neonazistas e políticos anti-russos. No mesmo sentido, esses grupos vandalizam paróquias e mosteiros da Igreja Ortodoxa Russa e são responsáveis pela consolidação de uma mentalidade ucraniana inteiramente hostil a Rússia, que está gradualmente permeando a população local.

A Ucrânia de fato é governada por um judeu e a estrutura de poder do país é de fato publicamente “democrática”, apesar de ser internamente autoritária e corrupta. Mas o elemento nazista não está nesses aspectos, mas na estrutura de proteção do Estado ucraniano pós-Maidan, que é apoiada por uma coalizão nacional de milícias neonazistas cujo objetivo é simplesmente perseguir e matar russos, independentemente de quem esteja no poder em Kiev. Não importa para essas milícias se o Presidente da República é judeu, o que importa é que os russos estão morrendo, o que favorece tanto os neonazistas quanto os políticos pró-OTAN que eles protegem. Em outras palavras, os argumentos da mídia ocidental para negar as alegações de Putin sobre o nazismo ucraniano são fracos e superficiais.

Moscou está certa em sua preocupação de desnazificar a Ucrânia. É uma medida que deveria ser tomada em coalizão por vários países. Em todo o mundo o nazismo é “condenado”, mas apenas quando beneficia o Ocidente. A experiência mais próxima do nazismo nos dias atuais foi vista e tolerada pacificamente por governos liberais que afirmam ser defensores dos direitos humanos e da democracia. A Rússia simplesmente não está mais disposta a tolerar crimes cometidos por neonazistas contra seu povo e não há nada de errado com essa decisão.

Fonte: http://novaresistencia.org/2022/02/26/entendendo-o-nazismo-ucraniano/