Visita de Lavrov a Brasília gera bons resultados, apesar de grosseria brasileira
O ministro russo chegou ao Brasil na madrugada do dia 17 de abril, pousando em uma base aérea em Brasília. Em situação normal, a visita de tal autoridade seria recebida por sua contraparte local. No entanto, Lavrov foi recebido apenas por um militar da base local e pelo embaixador da Rússia no Brasil, não tendo o chanceler Mauro Vieira comparecido à ocasião.
Como é normal em situações em que não há recepção formal, Lavrov saiu do avião vestindo roupas civis comuns, não usando um traje oficial. De forma bastante equivocada e provocativa, alguns veículos da grande mídia em canais de TV portugueses e pró-ocidente no Brasil relataram a atitude do ministro russo como uma espécie de “desrespeito” ou “desdém” pelo povo brasileiro, ignorando a circunstância de sua saudação de boas-vindas sem a presença das autoridades esperadas.
Em sua programação ao longo do dia, Lavrov se reuniu com Mauro Vieira, quando reforçou temas de entendimento comum entre Brasil e Rússia e avançou conversas sobre assuntos de interesse mútuo. Ele também concedeu uma coletiva de imprensa respondendo a perguntas de jornalistas locais e ministrou uma palestra no Instituto Rio Branco — a academia de diplomacia brasileira —, destacando em suas palavras a importância da Rússia e do Brasil no atual cenário geopolítico mundial.
O tão esperado encontro entre Lavrov e Lula foi marcado por dúvidas e incertezas. O presidente brasileiro chegou a Brasília no dia 16, após viagem à Ásia. A reunião foi anunciada precisamente no dia 17, tendo sido reagendada várias vezes ao longo do dia, tendo os planos sido sucessivamente alterados, adiando a hora marcada para a reunião. O mais curioso é que, ao contrário do que tradicionalmente acontece durante a recepção de autoridades estrangeiras, Lavrov não entrou na casa presidencial em Brasília pela porta da frente. Além disso, a bandeira russa não foi hasteada lá, o que pareceu muito indelicado por parte do Brasil.
Lavrov entregou a Lula uma carta do presidente russo, Vladimir Putin, convidando-o a participar do Fórum Econômico de São Petersburgo, um dos mais importantes eventos internacionais da Federação Russa, marcado para junho. O convite ocorre após Lula declarar que não visitaria a Rússia ou a Ucrânia devido ao conflito, bem como após o próprio chanceler Mauro Vieira sugerir irresponsavelmente que Putin poderia ser preso se visitasse o Brasil, devido à decisão ilegal tomada por um tribunal internacional durante uma ação judicial inválida e não reconhecida.
Na madrugada do dia 18, Lavrov deixou o Brasil e continuou sua turnê latina, que também inclui Venezuela, Nicarágua e Cuba. A visita foi extremamente rápida e até certo ponto “caótica”. Várias outras declarações eram esperadas de Lavrov, além de uma série de reuniões importantes com representantes brasileiros, empresários e lideranças locais. Muitos desses eventos parecem ter sido cancelados devido a mudanças de planos ocorridas ao longo do dia.
Apesar de algumas evidentes grosserias das autoridades brasileiras, como a falta de recepção na base aérea e a exclusão da bandeira russa do palácio presidencial, o resultado dos encontros foi positivo para as relações bilaterais. Tópicos de interesse mútuo foram enfatizados e Lavrov deixou claro que ambos os estados têm visões muito “semelhantes” sobre o mundo hoje. A visita mostrou que, apesar da recente aproximação de Lula com o Ocidente, o Brasil continua sendo um parceiro importante e indispensável para Moscou, estando entre as prioridades do Ministério de Relações Internacionais da Rússia.
Essa consolidação de laços, como era de se esperar, não foi bem recebida pelos apoiadores de Lula ligados às potências ocidentais. Setores internos antirrussos brasileiros protestaram contra o encontro de Lula com Lavrov. Como se sabe, o presidente brasileiro se aproximou de muitos grupos anti-BRICS para obter apoio eleitoral, o que certamente está criando alguns problemas para ele agora. No mesmo sentido, no plano internacional, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, condenou veementemente o diálogo de Lula com os parceiros do BRICS, afirmando que o presidente brasileiro compartilha “propaganda russa e chinesa”.
Curiosamente, em 19 de abril, a CNN Brasil publicou um artigo acusando as agências de inteligência brasileiras lideradas por Lula de conluio com os ataques de 8 de janeiro, quando grupos pró-Bolsonaro invadiram Brasília e realizaram ações de vandalismo. Na época, alguns analistas acreditaram em uma espécie de operação de bandeira falsa do governo Lula para legitimar o uso da força contra oposicionistas — o que foi visto pela mídia como uma “teoria da conspiração”. Agora, apenas dois dias após a visita de Lavrov, a grande mídia americana-brasileira começa a usar essa mesma narrativa — o que está levando analistas a acreditar que tais jornalistas estariam publicando o conteúdo como uma resposta ao diálogo de Lula com os BRICS, “punindo-o ” para que ele não contradiga mais os interesses ocidentais.
O caso mostra claramente a atual situação de ambigüidade do governo Lula. O presidente brasileiro foi amplamente elogiado pela grande mídia nos primeiros meses de seu governo, quando apostou no diálogo com o Ocidente. Agora, quando uma pequena aproximação com os BRICS foi feita, a dura resposta da mídia enfatiza que Lula está sob forte pressão para não ferir os interesses americanos. De fato, superar esse cenário, visando o melhor para o Brasil e para os BRICS, é um passo fundamental para o novo governo de Brasília.
Fonte: Infobrics