A visão de Ebrahim Raisi para a Causa Palestina

24.06.2024

O falecido presidente do Irã, Ebrahim Raisi, foi um defensor dedicado da causa palestina, articulando de forma apaixonada e persuasiva suas opiniões sobre o assunto. Ao tentar captar os esforços e as perspectivas de Raisi sobre a questão palestina, fui atraído por uma palestra que ele proferiu em uma cúpula dedicada a apoiar a Palestina, realizada em Riad em 11 de novembro de 2023. Esse discurso encapsulou de forma eloquente suas crenças profundamente arraigadas e sua visão estratégica para abordar a questão palestina. Ouvir diretamente do próprio Raisi fornece mais informações sobre suas políticas em relação à causa palestina e à ocupação sionista do que qualquer análise de terceiros poderia fazer.

O discurso de Raisi na cúpula de Riad girou em torno de vários temas críticos: a urgência de intervenções imediatas, a necessidade de ajuda humanitária, o imperativo de isolar Israel política e economicamente, a importância de reconhecer e processar crimes de guerra e a meta de longo prazo da soberania palestina. Esses pontos focais ressaltaram a abordagem abrangente de Raisi para apoiar o povo palestino e combater as injustiças da ocupação sionista. Ele iniciou sua palestra com saudações especiais.

Salam [saudações] para a cidade sagrada de Quds, Salam para Gaza e seus filhos, Salam para a Palestina e seu sangue injustamente derramado, Salam para a honrosa resistência da Palestina e do Líbano. Hoje, a Palestina é a pedra de toque e a medida da dignidade islâmica e humana.

Como os participantes dessa cúpula eram representantes de países islâmicos, Raisi começou sua palestra falando sobre o que o mundo islâmico deve fazer. Raisi afirmou que a unidade e a solidariedade da comunidade muçulmana são fundamentais para resolver seus desafios. Ele enfatizou que o caminho para a salvação da Ummah islâmica está na confiança na orientação divina e nas forças inerentes do povo muçulmano, em vez da dependência de potências hegemônicas. Ele acrescentou que, reconhecendo essa realidade, o governo iraniano adotou políticas destinadas a promover a cooperação regional e a coesão entre as nações islâmicas. Por meio dessas iniciativas, o Irã estendeu a mão da amizade e da fraternidade aos países muçulmanos vizinhos.

Ele destacou a trágica situação em Gaza, descrevendo-a como uma terra heróica, porém triste, sob cerco. Nas últimas duas décadas, Gaza foi submetida a um bloqueio total, o que a tornou a maior prisão a céu aberto do mundo. Apesar disso, o povo de Gaza resistiu e perseverou, simbolizando o triunfo da fé e da resiliência sobre a opressão. Raisi condenou o regime israelense por suas graves violações do direito internacional, incluindo bombardeios indiscriminados e o uso de armas proibidas, levando a uma crise humanitária catastrófica.

Raisi conclamou os líderes islâmicos a esclarecerem sua posição, posicionando-se ou com a nobre luta do povo palestino ou com as forças de opressão. Ele acusou os Estados Unidos de serem os principais cúmplices dessas atrocidades, fornecendo apoio político, militar e econômico a Israel. Esse apoio, de acordo com Raisi, encoraja Israel a continuar suas ações agressivas contra os palestinos.

O presidente iraniano ressaltou que os EUA não apenas ajudam Israel por meio de suprimentos militares, mas também participam do conflito enviando seus navios de guerra para a região e usando seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear resoluções que condenam as ações israelenses. Ele enfatizou que a verdadeira face da política dos EUA agora é evidente, pois ela apoia as ações genocidas de Israel em Gaza.

O discurso de Raisi destacou a falência moral e ética da atual ordem internacional, fortemente influenciada pelos EUA. Ele pediu que as nações islâmicas tomem medidas decisivas e preencham o vazio deixado pelos órgãos internacionais que não conseguiram proteger os direitos dos palestinos.

Na continuação de sua palestra na cúpula de apoio à Palestina, o presidente iraniano Ebrahim Raisi delineou uma série de ações urgentes e medidas estratégicas com o objetivo de enfrentar a crise em Gaza e apoiar a causa palestina. Ele pediu medidas imediatas e decisivas para interromper a violência e fornecer ajuda humanitária, além de estabelecer estratégias de longo prazo para a solidariedade regional e a resistência contra a ocupação israelense.

Ações imediatas

  1. Cessar-fogo e proteção de civis: Raisi exigiu a cessação imediata dos ataques israelenses em Gaza, especialmente aqueles que têm como alvo civis, hospitais, escolas e centros de ajuda. Ele rejeitou a noção de “pausas humanitárias” como meras táticas de Israel para escapar do escrutínio público e continuar suas operações.
  2. Ajuda humanitária e levantamento do bloqueio: Ele pediu o levantamento completo do bloqueio em Gaza e a reabertura incondicional da passagem de Rafah com o Egito para facilitar a entrada de alimentos e suprimentos médicos. Ele pediu a formação de um comitê executivo para garantir a coordenação dos esforços humanitários de todas as nações islâmicas.
  3. Retirada militar israelense: Raisi insistiu na retirada imediata das forças israelenses de Gaza, afirmando que a terra e a governança de Gaza pertencem ao povo palestino e a seus representantes eleitos.
  4. Isolamento político e econômico de Israel: Ele defendeu o rompimento de todos os laços políticos e econômicos com Israel pelos países islâmicos. Isso inclui a priorização de sanções ao comércio de energia e o apoio a movimentos de base para boicotar produtos israelenses.
  5. Reconhecimento do exército israelense como uma organização terrorista: Raisi sugeriu que as nações islâmicas deveriam designar os militares israelenses como uma entidade terrorista, alinhando-se à sua postura coletiva contra a agressão e a ocupação.
  6. Tribunal Internacional para Crimes de Guerra: Ele propôs a criação de um tribunal internacional para processar os oficiais israelenses e americanos responsáveis por crimes de guerra e genocídio contra os palestinos.
  7. Fundo para a reconstrução de Gaza: Um fundo especial deve ser criado para facilitar a reconstrução imediata de Gaza, com contribuições de todos os países islâmicos participantes da cúpula.
  8. Caravanas humanitárias: Raisi incentivou o envio de comboios de ajuda humanitária para a Palestina de várias nações islâmicas.
  9. Comemoração de atrocidades: Ele sugeriu a designação de um dia para lembrar o bombardeio israelense ao Hospital Al-Shifa como um dia de genocídio e crimes contra a humanidade.
  10. Armar os palestinos: Se os crimes de guerra persistirem, Raisi pediu às nações islâmicas que armem os palestinos em sua luta contra a ocupação israelense.

Visão de longo prazo para a soberania palestina

Raisi reiterou a solução de longo prazo proposta pelo aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, que envolve o estabelecimento de um Estado palestino unificado com base em princípios democráticos em que todos os palestinos, independentemente da religião, tenham direito a voto. Essa visão, que foi registrada nas Nações Unidas, exige um único Estado palestino do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, garantindo direitos iguais para muçulmanos, cristãos e judeus. Raisi enfatizou que o Irã apoia firmemente essa abordagem democrática e a vê como a única solução sustentável para o conflito.

A resistência como a única estratégia eficaz

Durante todo o seu discurso, Raisi elogiou a resiliência e a resistência do povo palestino e de grupos como o Hamas, descrevendo-os como o orgulho do mundo islâmico. Ele afirmou que a resistência continua sendo a única estratégia eficaz contra a ocupação e a agressão israelense. Raisi elogiou a recente resistência de 35 dias contra a brutalidade israelense como uma conquista notável, ressaltando que décadas de resistência inabalável demonstraram que nenhuma outra solução além da resistência pode afastar os ocupantes.

Despertar global e solidariedade

Raisi destacou o despertar global provocado pelas atrocidades cometidas por Israel em Gaza, agradecendo aos cidadãos europeus e americanos que demonstraram solidariedade com os habitantes de Gaza. Na época, ele observou que o mundo estava se tornando mais consciente dos crimes, ao custo trágico de 14.000 vidas inocentes. No entanto, a situação só piorou nos meses seguintes, e o número atual de mortos já ultrapassa 40.000 palestinos. Raisi também destacou a questão alarmante da capacidade nuclear de Israel, criticando a inação da comunidade internacional apesar das ameaças e dos programas de armas secretos de Israel. Ele alertou que a comunidade internacional deve despertar para os perigos representados pelo arsenal nuclear de Israel, que permanece sem controle de nenhum órgão internacional.

Dever ético e religioso

Raisi enquadrou a causa palestina como um dever ético e religioso para o mundo islâmico. Ele invocou os ensinamentos do Profeta Maomé, enfatizando a importância de defender os muçulmanos oprimidos e proteger locais islâmicos sagrados como a Mesquita Al-Aqsa. Raisi conclamou as nações islâmicas a tomarem medidas decisivas para salvar o povo palestino, alertando que, se isso não for feito, haverá um aumento da frustração pública e possíveis ações autônomas das massas.

Conclusão

A agenda abrangente de Raisi destaca uma abordagem multifacetada que combina esforços humanitários imediatos, sanções políticas e econômicas, ações legais e resistência sustentada, sustentada por uma visão de um Estado palestino unificado. Seu discurso reflete um profundo compromisso com a causa palestina e um apelo ao mundo islâmico para que se una em apoio à justiça e à resistência contra a opressão. Por meio de suas palavras e ações propostas, o legado de Ebrahim Raisi continua a inspirar e mobilizar esforços para uma solução justa e duradoura para a crise palestina.

Mais uma vez, ele encerrou seu discurso com saudações, com a voz carregada de emoção, ao dizer:

Salam para as crianças inocentes e martirizadas de Gaza, Salam para as crianças que buscaram refúgio no Alcorão em meio às ruínas de Gaza e recitam os versos do Alcorão. Salam para as crianças que tremem com o horror da opressão. Salam para meus queridos filhos em Gaza. Salam para vocês que hoje, por meio de sua firmeza diante dos exércitos mais equipados do mundo e das pessoas mais desprezíveis da Terra, deram significado à resistência para nós. Salam para vocês que, com suas mãos pequenas e corpos frágeis, retrataram a selvageria e a brutalidade dos sionistas ocupantes. Seus rostos encharcados de sangue, seus corpos desmembrados e seus ossos esmagados sob os escombros das bombas americanas gritam que estamos firmes.

Fonte