Lula ganhou, e agora?

11.11.2022

Lula venceu e todos já estão falando maravilhas sobre como será seu próximo governo. É natural que seja este o caso, pois a cada novo governo há esperança de mudança e melhoria, por causa do ditado de que "uma vassoura nova sempre varre bem". Mas não é lógico se olharmos para alguns fatos-chave.

Lula Venceu por menos de 1% dos votos, o que indica que o Brasil está politicamente dividido em dois, o que tornará muito difícil para ele governar a seu gosto, pois ele também tem o Congresso contra ele.

É verdade que Lula tem maior sensibilidade social do que Bolsonaro. O primeiro é progressivo e o segundo conservador. E este é hoje um falso dilema político, tanto dentro dos Estados-nação quanto na ordem internacional.

Hoje a escolha é entre governos progressistas ou soberanistas.

Os progressivos constituem a maioria dos governos ocidentais, com os Estados Unidos na liderança, e quase todos os governos europeus e latino-americanos. Podemos listar quase todos os governos soberanos: Rússia, Irã, China, Índia, Turquia, Israel, Indonésia, Namíbia, Hungria, Polônia, Somália, Cuba, Equador, Paraguai, Taiwan e alguns outros.

Lula foi, é e será um militante dentro dos governos progressistas globalistas, que são aqueles governos para os quais a idéia de soberania é um empecilho, uma coisa do passado e, portanto, inalcançável.

Os governos progressistas têm um "não" suave, exceto por tudo que representa a tradição e os valores do passado. Por quê? Porque eles sempre se movem no êxtase temporário do futuro, por isso seu lema é "estar sempre na vanguarda", na crista da onda. Seu maior pecado é ser chamado de antiquado.

É claro que Lula vai encher sua boca com a idéia de soberania, assim como os Cristinos e Fernandezes fazem com a idéia de Pátria, mas quando se trata de defendê-la, como acontece com "aqueles que trabalham como índios", eles apóiam esta última em detrimento da Nação.

À primeira vista, os governos de Lula e Bolsonaro são intercambiáveis, pois ambos são globalistas e concordam com a Nova (des)ordem Mundial. Assim, diante da guerra russo-ucraniana, ambos são a favor da Ucrânia. Seus governos permitiram ambos a depredação da Amazônia. Em face da tese questionada sobre o aquecimento global, ambos responderam da mesma forma. Quando se trata da substituição da energia nuclear, ambas são da mesma opinião.

O Brasil é um continente que sempre, com algumas honrosas exceções, teve governos vicários, ou seja, governos que representam outros e não os interesses genuínos do povo brasileiro.

O que é lamentável é que na Argentina, o peronismo como um todo e em suas diferentes variantes, fez eco desta falácia, em vez de tomar uma distancia criteriosa e des-sensibilizar até se tornar mais claro.

Se a Argentina tivesse um governo soberano (a idéia de soberania foi enterrada pelo ministro das Relações Exteriores de Alfonsín em 1983), o governo de Lula enfraqueceria o Brasil porque é um governo ideologicamente fraco, estruturado em uma democracia discursiva onde os lugares comuns da religião secular dos direitos humanos, gênero, arco-íris e ideologias indígenas serão repetidos ad nauseam¹. Em outras palavras, o poder real do Brasil (suas indústrias, mineração e agricultura) será marginalizado em favor do poder simbólico de certas minorias.

A teoria do multiculturalismo substituirá a do caldeirão ou do interculturalismo que tornou possível a existência tanto do Brasil quanto da Argentina.

 

Nota

1. ad nauseam: Argumentum ad nauseam é uma expressão em língua latina que se refere à argumentação por repetição, que consiste em repetir insistentemente a mesma afirmação até o ponto de, metaforicamente, provocar náusea.