A geopolítica da Rússia Pré-Revolucionária

13.06.2021

A renúncia do Czar Nicolau II não representou de imediato nenhuma mudança no posicionamento russo na Primeira Guerra Mundial, o governo provisório e a Duma mantiveram seu compromisso com a Entente, mantendo diálogo firme com a França e a Inglaterra.

Servindo de tampão da penetração continental e sentido oriental da Alemanha, potência continental vizinha, a ocupando logisticamente e humanamente em duas frentes difíceis de manejar simultaneamente, porém, sem um histórico diplomático forte com a França ou Inglaterra.

Dialogar com a França e a Inglaterra, longe de um sentido pragmático, no sentido militar de fronteiras e posicionamento geográfico, representava para aquele parlamento uma esperança de consolidar uma cultura política burguesa, experimentada pelas experiências constitucionais, principalmente em França, país que encarnou o espírito do iluminismo pela Revolução Francesa.

Em 25 de fevereiro de 1917 às vésperas da Revolução, com a deposição do Czar, foi suspensa a atividade da Quarta Duma, a quarta assembleia legislativa da Rússia, o que mostrava, antes mesmo da URSS, uma difícil experiência com os regimes democráticos na Rússia e uma forte tradição realista, de poder extremo do soberano civil.

O Comitê Provisional da Duma, cujo presidente seria M.V.Rodzianko, o comitê assumiu as funções de autoridade de poder supremo, em dois de março de 1917, o Imperador Nicolau II por forte pressão da Duma e da Revolução abdicou em dois de março de 1917, transferiu os poderes de herança para o grão príncipe Michael Alexandrovich, este mais flexível à soberania popular e ciente da situação social do país aceitaria mediante aprovação soberana da população.

Os trabalhos da sessão foram rápidos, a dois de março o Comitê constituiu o seu primeiro gabinete, foram anunciadas eleições diretas, livres com voto direto e secreto, isso não significou de modo algum o fim dos sovietes, que tinham forte influência sobre os soldados envolvidos nas causas da Revolução, que afinal eram várias.

O Kaiser Guilherme II tinha consciência da situação interna russa e sabia do impacto da chegada de V.I. Lênin na Rússia, que a propaganda antimilitar de natureza sindical envolvia os trabalhadores a desertarem da guerra para não ferirem seus companheiros de classe de outras nacionalidades.

Assim, se fundou uma afinidade russo-germânico, pois envolvia ao mesmo tempo a Social Democracia alemã, oposição do então Império Germânico, a graduação por etapas de uma política interna e externa russa que se desenvolveria com os bolcheviques previam etapas que guardavam consigo contradições no seu devir.

Em 18 de abril de 1917, surge outra crise governamental, esta dialética profunda da instável política parlamentar e burguesa desta nova Rússia resulta com a constituição, em cinco de maio de 1917, do primeiro governo de coalizão com a participação inclusive de socialistas, a este momento, P.N. Milyukov, do Partido Constitucional Democrata, político da Duma, havia prometido em 18 de abril à Inglaterra e a França o comprometimento com a guerra e com o direito internacional pós guerra, que resultou numa irrupção da tradição realista, agora o soberano civil, precisaria estar subordinado a uma constituição.

De tal modo, que um país envolvido em guerra internacional, a poucos meses de uma guerra civil e com fortes investidas diplomáticas e estratégicas de segurança da Alemanha, França e Inglaterra, tornava estas disputas internas cada vez mais delicadas, pois eram fundamentais para as próximas décadas da história mundial.

A decisão do Governo Interino causou a indignação popular, que se repercutiu em encontros e demonstrações em massa, com exigências de que a guerra acabasse rapidamente, de que P.N. Milyukov e A.I. Guchov se demitissem e transferissem o poder para os soviéticos. (DUGIN, 2016, p.13)

O dia cinco de maio resultou na demissão do gabinete e na renúncia dos dois principais personagens envolvidos nas definições da aliança com a Tríplice Entente, um acordo do Governo Interino e o Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado surgiu ao mesmo dia para a criação de uma coligação, mas os bolchevique não aceitaram se coligar.

Inevitavelmente esta era uma postura pró-alemã no âmbito geopolítico, pois, ainda que contraditoriamente, a social democracia e o gabinete do Kaiser na Alemanha não desejavam continuar em guerra com a Rússia, por razões obviamente distintas, em meio a toda esta crise, em julho, o parlamento da Finlândia declara independência da Rússia e proíbe o comando executivo sob as guarnições neste território.

A crise na frente oriental, estimulada pelo baixo moral dos soldados, condições logísticas e forte luta política interna de posições contra e a favor da guerra, força um novo gabinete, desta vez o socialista Kerensky forma um governo, que terá sete nomeações de socialistas e mencheviques.

Nada a nível externo mudou, a diplomacia com a Inglaterra tornou-se cada vez mais forte, o que preocupava a sociedade civil russa, de uma possível aventura na frente ocidental em caso de empurrar as tropas alemães cada vez mais a oeste.

Com o objetivo de se opor ao Soviete de Petrogrado, Kerensky constituiu a um de setembro de 1917 um novo órgão de poder, o Directório (Soviete dos Cinco) que proclamou a Rússia como uma república e dissolveu a Quarta Duma Estatal. A 1 de setembro de 1917 a Conferência Democrática Pan-Russa, que tinha que decidir à questão da autoridade governante, abriu a participação a todos os partidos políticos. Os bolcheviques abandonaram-na de modo notório (Ibid, 2016, p. 13)

 

Em 26 de outubro de 1917, em favor dos sovietes, os bolcheviques derrubam o governo interino, uma síntese geopolítica é que o Czar e os republicanos eram favoráveis a uma integração com a Europa ocidental, que não inclui a Alemanha nesta conjuntura e os bolcheviques uma aliança pragmática com os alemães e a opção pela paz.
Em três de março de 1918, foi assinado o tratado de Brest-Litovsk, onde conclui um acordo de paz entre os bolcheviques e as potências centrais,  na sua parte ocidental, a Rússia perde as províncias de Privislisky, a Ucrânia, província da Estônia, Curlândia, Livônia, o Grande Principado da Finlândia, Kars, Oblast e Batumi Oblast no Cáucaso.

As mudanças territoriais, geraram protestos dentro das esquerdas, como a dos socialistas revolucionários que entraram em guerra civil com os bolcheviques pela expulsão dos elementos germânicos das antigas terras russas, porém, a consolidação da vitória diplomática levou aos vencedores da situação, os bolcheviques a manterem os acordos, isso continuou em desdobramentos da guerra civil russa, que se segue depois do fim da Primeira Guerra Mundial.