A luta contra o liberalismo possui um aspecto antropológico

06.07.2018

Todas as ideologias políticas que chegaram ao ápice de sua propagação e influência, no século XX, foram produtos e encarnações da Nova Era e do espírito da Modernidade – mesmo que de maneiras distintas ou com diferentes signos. E atualmente, estamos caminhando rapidamente para fora da era da modernidade, de modo que o início do século 21 coincide com o momento do fim das ideologias.
A Quarta Teoria Política (QTP) fundamenta-se no fato de que as três ideologias clássicas de nosso tempo esgotaram seus potenciais.
Liberalismo: o sujeito é um Indivíduo. Seu principal objetivo é libertar o Indivíduo do poder da Igreja, depois do Estado-Nação, dos contornos jurídicos, dos limites de classe e, depois, de gênero, bem como da pertença à humanidade, ou seja, de todas as formas de identidade coletiva, sendo seu produto final a fusão do homem com a Inteligência Artificial ou com qualquer outra quimera semelhante – aparentemente, seu intelecto não basta à “parte progressiva da humanidade”.
Marxismo (socialismo): a libertação de alguns indivíduos leva à escravização dos demais. A sociedade não é constituída por indivíduos, mas por classes. E há uma guerra entre essas classes – o proletariado deve derrotar a burguesia.
Nacionalismo (fascismo): o progresso é reconhecido, assim como a identidade individual. Mas é necessário construir uma nova estrutura de indivíduos – uma nação política como sujeito histórico. E uma nação compete com outras com base em seus interesses egoístas. Em sua forma extremada, isso é fascismo (ou estatismo).
Três teorias políticas têm lutado entre si nos últimos 200 anos. Nietzsche anelou por um tempo em que as pessoas lutassem, não por recursos, mas pelos conceitos. E no século XX, se nos desviarmos do materialismo, enxergaremos uma batalha ideológica: o liberalismo das sociedades capitalistas ocidentais, o socialismo da URSS e o fascismo de Hitler. E na segunda metade do século XX, a Guerra Fria, a batalha ideológica entre liberais e comunistas. Os liberais venceram: a segunda e a terceira teorias políticas desapareceram.
O liberalismo lutou contra o totalitarismo, em nome da liberdade, mas quando comunismo e fascismo deixaram de existir, não havia mais ninguém contra quem lutar. E assim, o liberalismo se deu conta de algo espantoso: ele também é ditadura, também é racismo – não apenas biológico ou de classe, mas cultural, civilizatório, tecnológico, econômico.
As raízes das ideologias totalitárias remontam à modernidade. A essência modernista do liberalismo mostra-se agora. Ele ficou sozinho e, assim, manifesta sua própria estrutura. Há aqueles que dizem “sim” a ele (ao eixo de governo liberal, a quinta e a sexta colunas). No entanto, a maioria da humanidade, cada vez mais, diz “não”. E, então, começamos a nos situar na Quarta Teoria Política. Enquanto permanecemos dentro do quadro das três teorias [modernas], nos deslocaremos sempre para uma delas (ou para uma mistura ideológica). No trato com seus oponentes, o liberalismo simplesmente os rotula ou de “fascistas” (equiparando-os a Hitler) ou de stalinistas. Como estamos diante de uma sociedade aberta (em referência à Sociedade Aberta de Karl Popper), seus inimigos são classificados como comunistas e fascistas. Mas a QTP propõe uma fórmula importante: “somos contra o liberalismo”. Se a armadilha da hegemonia consiste em nos identificar imediatamente com os fascistas ou os comunistas, a QTP propõe ir além destes, acrescentando à fórmula anterior: “não somos fascistas e nem comunistas”.
O sujeito da QTP é o Povo [Narod], considerado não enquanto população ou enquanto um conjunto de cidadãos: o Povo como um conceito cultural e histórico, que existe para além dos microciclos temporais, isto é, na eternidade social – aquilo que foi, é e será.
Neste sentido, a luta contra o liberalismo, na QTP, assume uma tonalidade antropológica – uma luta pelo Homem, em nome de tudo que faz o Homem ser um Homem: idioma, cultura, identidade, historicidade, tempo, liberdade e dignidade. Não se trata mais da “direita” ou da “esquerda”, mas da construção de uma outra configuração, simetria e geometria ideológica. Não se trata de fascismo ou de comunismo, mas daqueles dispostos a defender o Povo como uma forma de identidade coletiva irredutível à classe ou à nação, enraizada na temporalidade do espírito, relativa à alma, à Tradição, ao Sagrado – em todas as categorias situadas no limiar da modernidade.