A Humilhação de Israel
Após 25 dias de promessas de um ataque devastador, com Israel dizendo que a sua resposta à retaliação iraniana mudaria todo o cenário do Oriente Médio, a montanha pariu um rato.
Apesar da principal vantagem militar israelense, vis-à-vis os países da região, ser o poder aéreo (com a ciberguerra e a inteligência militar vindo em seguida), o ataque israelense contra o Irã não foi apenas insuficiente e ineficaz. Ele foi patético.
Se recordarmos os eventos do último mês, o Irã disparou aproximadamente 200 mísseis contra Israel, na Operação Promessa Verdadeira 2. A ação, empreendida em resposta ao ataque terrorista que assassinou Ismail Haniyeh em Teerã e ao assassinato de Sayid Hassan Nasrallah, levou a uma primeira humilhação de Israel.
Dezenas de vídeos foram gravados e divulgados, e o mundo inteiro pôde assistir e se regozijar, enquanto dúzias de mísseis balísticos martelavam impiedosamente bases e posições defensivas israelenses, com mais de 30 mísseis atingindo apenas a Base de Nevatim. De fato, apesar de um enorme esforço, mais da metade dos mísseis iranianos atingiram seus alvos. Todos viram.
4 bases militares, 1 estação de radar, 1 concentração de tanques e 1 instalação ligada ao Mossad foram atingidos, o que levou inclusive à destruição e danificação de um número indeterminado de F-35. As baixas militares israelenses por causa do ataque não foram divulgadas. E enquanto isso acontecia, Netanyahu corria para um bunker, apavorado.
A partir de então, Israel declarou que atacaria o Irã imediatamente. Israel bufou, ameaçou, esperneou. Trêmulo, claramente com os nervos à flor da pele, Netanyahu prometeu uma resposta fulminante e devastadora. As prostitutas virtuais do sionismo – entre liberais e neopentecostais – deliravam em sonhos eróticos de destruição nuclear. Em seus cérebros minúsculos de quem não entende realmente as correlações de força no Oriente Médio contemporâneo, o “fim” do Irã seria inevitável. Israel devolveria o Irã à “idade da pedra” e transformaria Teerã em uma cratera nuclear.
Naturalmente, nós rimos desses delírios. Assim que o Irã fez a sua retaliação, nós declaramos de forma enfática a impossibilidade de Israel dar uma resposta suficientemente forte e definitiva contra o Irã, sem o apoio dos EUA e de uma série de outros aliados. Apontamos, sem titubear, que o Irã havia posto Israel em xeque e reafirmado a sua capacidade de dissuasão contra o Estado sionista.
A realidade demonstrou de forma cabal o caráter férreo de nosso vaticínio.
O dilema de Israel é que o país não possui uma defesa antiaérea suficientemente forte para resistir a um jogo de escalada com o Irã. Seja porque as “maravilhas” israelenses (Iron Dome, Arrow, Funda de Davi) são bem piores do que todos pensavam ou porque essas defesas foram desgastadas por 1 ano de conflito, se Israel não conseguiu se defender contra apenas 200 mísseis…e se o Irã decidisse usar 500? E se o Irã decidisse usar 1.000?
E o Irã tem dezenas de milhares de mísseis como os que foram usados em 1 de outubro…
Nesse sentido, Israel até poderia tentar um grande ataque utilizando a sua força aérea, mas precisaria garantir o abastecimento dos aviões usados, e estaria lidando com uma das melhores coberturas antiaéreas do mundo. Israel poderia tentar assassinar autoridades iranianas e alvejar o seu programa nuclear. Mas a perda de inúmeros aviões caríssimos seria inevitável, e antes mesmo dos pilotos sobreviventes voltarem para casa, Israel estaria em chamas.
A prova disso foi que Israel implorou aos EUA pelo sistema THAAD (que é tão bom [ou ruim] quanto a Funda de Davi), e os EUA, após ter que aturar o choro infinito dos vitimistas de Sião, concedeu o pedido entregando 2 sistemas do tipo.
Nisso, os dias foram se sucedendo, e a demora da resposta israelense já havia virado uma piada. A única análise possível era de que Israel estava com medo de responder ao Irã por causa das consequências de um ataque. Uma vez mais, tudo demonstrou a precisão dessa análise.
Da parte dos EUA, a posição de Washington era de tentar convencer Israel a não atacar o Irã; e caso atacasse, a não atacar alvos nucleares ou petrolíferos. Para Washington uma escalada no Oriente Médio é ruim porque desvia o seu foco do suporte à Ucrânia contra a Rússia – e os EUA não estão em condições de sustentar dois conflitos dessa escala simultaneamente hoje.
E então veio o vazamento dos planos de ataque israelenses por um canal do Telegram (Middle East Spectator), e Israel provavelmente teve que começar a refazer todos os seus planos.
O resultado foi um ataque no qual Israel teria usado 100 aviões, incluindo F-35, disparando dezenas de mísseis e usando dezenas de drones (lançados por terroristas aliados a Israel), para alcançar o resultado de 4 impactos em um complexo de produção de combustível para mísseis antiaéreos de curto e médio alcance em Parchin, 1 impacto em um armazém de uma empresa de equipamentos agrícolas em Shamsabad, 3 radares danificados em províncias fronteiriças e 1 radar danificado perto de Teerã.
Após 1 dia e com imagens de satélites já disponíveis, este é o resultado demonstrável. Quanto aos 4 soldados iranianos que teriam morrido não está claro onde eles estavam.
O que deu errado? Onde Israel fracassou?
Vimos ontem os vídeos das defesas aéreas iranianas operando com perfeição, alvejando mísseis e drones sem falhas. Como nós já havíamos comentado em texto e em vídeo no passado, o Irã dispõe de uma das redes mais densas de defesa aérea do mundo e com equipamentos de ótima qualidade.
O Irã dispõe do Bavar-373 e de S-300 em grande quantidade. Além disso, dispõe de dezenas de MIM-23 Hawk (e suas versões iranianas como o Mersad), HQ-2J e Khordad-15, além de centenas de CH-SH-4 e 9K331 Tor-M1. E segundo números crescentes de analistas, o Irã opera S-400 russos recém-entregues.
A explicação mais plausível é que Israel abortou o ataque no meio do caminho quando viu que ele não evoluiria favoravelmente por causa da defesa aérea iraniana. Israel iniciou uma ação de supressão da defesa aérea iraniana a 250km das fronteiras iranianas, mas falhou nessa missão específica.
Pra continuar na missão, Israel teria que avançar para ainda mais perto e precisaria, então, dos aviões-tanques, e então toda a operação ficaria ao alcance da Força Aérea do Irã, bem como de ainda mais sistemas antiaéreos. Israel tomou a decisão sensata e abortou a missão. A “segunda onda” foi acionada (consistindo apenas em drones, aparentemente) para cobrir o encerramento da missão e manter o Irã ocupado.
Boa parte dessas dificuldades já era prevista, mas Israel quis se arriscar mesmo assim, passando então uma das maiores vergonhas militares de sua história. Na prática, ficou evidenciado que Israel não tem como enfrentar o Irã com armas convencionais, restando apenas as suas armas nucleares como meios de infligir danos sérios aos persas…o que teria as suas próprias consequências.