A Geopolítica, de Rudolf Kjellén a Mackinder

14.06.2021

1.Geopolítica:

O neologismo “geopolítica” é criado por Rudolf Kjellén (1864-1922), jurista sueco, professor de história e ciência política; escrito pela primeira vez em 1899, em um artigo para a revista Ymer, em 1905, o seu ensaio As grandes potências, explica o termo pela primeira vez.

“Análise do Estado como agente apropriador e controlador do espaço geográfico”, novamente em 1916 ele debruça sobre o tema, em sua obra chamada “L’Etat comme forme de vie”, ele a define como “a ciência do Estado, enquanto organismo geográfico tal qual se manifesta no espaço” (Kjellén, 1916 apud CHAUPRADE, 2001, p. 29).

Comparando o Estado com um ser vivo, Kjellén multiplicou–se numa série de analogias: o território seria o corpo, a capital representaria o coração e os pulmões, as vias de transporte corresponderiam às artérias e às veias, os centros de produção seriam as mãos e os pés. Segundo ele, o verdadeiro poderio do Estado resulta da existência de três condições essenciais: a) grande espaço; b) ampla liberdade de movimentos; c) perfeita coesão interna. (AZEVEDO, 2001, P.45)

2. Friedrich Ratzel

Friedrich Ratzel foi influenciado por esta concepção orgânica de Estado, o professor de geografia da universidade de Leipzig, escreveu obras como “Antropogeografia”(1882), “Politische Geographie” (1897), considerado o pai da geografia humana.

Ele introduziu a relação da geopolítica com os problemas humanos e consequentemente da sua relação com o homem, um olhar antropocêntrico, na sua obra de 1897, com nove capítulos, ele dedica-se metodologicamente a uma relação causal entre Estado e território e fala da sua modificação ao longo da história humana.

Ele define a geografia política como “geografia dos Estados, do comércio e da guerra” (RATZEL, 1987, p. 75). Para Azevedo (1955), é possível por meio da obra de Ratzel exprimir um conjunto de concepções sobre os seus anseios sobre a Alemanha, país natal.

Nesta leitura, liga-se uma visão de desejo expansionista de caráter político e civilizatório, uma busca da Alemanha por espaço vital, algo que repercute até a política externa do Terceiro Reich, ele teve uma atuação prática no mundo do Estado alemão, foi chefe do Comitê Colonial.

A conquista de colônias dava para Ratzel uma visão orgânica de expansão do corpo vivo do Estado, cujo espaço era necessário para alimentar o crescimento estatal, a busca por mão de obra e matéria primas a serem domesticadas pelo poder estatal, assim, haveria a expansão das fronteiras, por meio de novas conquistas coloniais, pois tudo faria parte da Alemanha.

As fronteiras não são concebidas senão como a expressão de um movimento orgânico ou inorgânico; as formações estatais elementares assemelham-se, evidentemente, a um tecido celular: em tudo se reconhece a semelhança entre as formas de vida que surgem da ligação com o solo (RATZEL, 1987, p. 59).

3.Alfred T. Mahan

O Império Britânico, a sua expansão marítima gerou um debate entre a geografia física e humana, qual relação que o mar tinha sobre o poder do Estado? Alfted T. Mahan se propunha a dar esta resposta em fins do século XIX, dentro da sua compreensão, o controle da rota marítima é o instrumento de controle mundial.

“The influence of the sea power on history 1660-1783” (1890), livro em que sintetiza a relação do poder marítimo com o poder político; em 1897 em “The interst of America in sea power”, como um texto de recomendações aos Estados Unidos, ele sugere que o país se associe ao poder naval britânico, contenha a expansão continental da Alemanha, coordene uma estratégia política americana e europeia que detenha a emergência de qualquer potência asiática.

Protegidos ao sul pela doutrina Monroe, que lhes assegura a liderança sobre o continente americano, os Estados Unidos constituem, do ponto de vista geopolítico, uma ilha. Essa característica insular fornece a segurança. Como a Inglaterra de antigamente, que fundou sua riqueza sobre o domínio dos mares e a segurança insular, os Estados Unidos dispõem de todos os trunfos para tornar-se a primeira potência mundial. A imensidade de sua marcha interior dá, com efeito, aos americanos um trunfo suplementar para constituir uma economia forte, pouco dependente de câmbios internacionais (CHAUPRADE, 2001, p. 44)

Mahan defendia que os Estados Unidos deveria ter várias bases marítimas com estreita comunicação, que pudesse executar uma logística de defesa e de comércio naval, assim como uma ação dissuasiva de criar bloqueios marítimos às nações inimigas, não só defender, mas também conquistar era um dilema seu.

4. Halford Mackinder.

Em seguida, dentro de uma discussão do mundo físico com o mundo político das nações, emerge uma outra teoria que vem a ser contrastante com a do poder naval, a do poder terrestre, a de Halford Mackinder (1861-1947), na sua conferência chamada “The geographical pivot of history”, de 25 de janeiro de 1904 na Real Sociedade Geográfica.

Para este geógrafo, existe uma faixa de transição entre o continente asiático e europeu, a Eurásia, que localiza-se justamente na Rússia Czarista, os recursos naturais abundantes permite fazer do Estado que os controlam, uma potência mundial, o grande poder terrestre.

Quem domina a Eurásia, domina o mundo, essa é a sua compreensão, Mackinder reconhece o enfraquecimento desta região que permitiu a ascensão das terras dos mares insulares, a que dá destaque ao Reino Unidos e que a emergência das potências da época, Rússia e Alemanha se daria de melhor forma se estas fossem unificadas ou parceiras geoestratégicas.

O fim da Primeira Guerra Mundial e o Tratado de Versalhes trataram de retardar esses planos, pois o cordão sanitário desenvolvido pela França com o fim dos impérios austríaco, alemão, russo e turco, por meio da criação de novos países, como a Polônia, Tcheco-Eslováquia, Húngria, Bulgária, Romênia e Grécia.

                                         
Referências :

AZEVEDO, Aroldo. Geografia a serviço da política. In Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 21, out. 1955, p. 42-68, p.45.

BRAGA, Sandra Rodrigues. Sensos, Consensos e Dissensos:Itinerários Geopolíticos de Ratzel a Lacoste. Revista de Geopolítica, Ponta Grossa - PR, v. 2, nº 1, p. 146 – 163, jan./jun. 2011.

CHAUPRADE, Aymeric. Géopolitique: constantes et changements dans l’histoire. Paris: Ellipses, 2001, p.29, p.44.

RATZEL, Friedrich. La géographie politique: les concepts fondamentaux. Paris: Fayard, 1987. (Col. Géopolitiques et stratégies), p.59, 75.