As Conexões Fascistas e Nacionalistas do Chavismo

03.12.2021
No imaginário liberal-conservador e neoconservador, Hugo Chávez e seu governo eram comunistas, mas uma leitura mais atenta que as raízes ideológicas de Chávez eram, na verdade, junto à terceira teoria política, especialmente em sua vertente peronista, graças a seu mentor o filósofo argentino Norberto Ceresole.

Para vários analistas e meios de comunicação latino-americanos, a chamada Revolução Bolivariana é um projeto exclusivamente marxista. De fato, o líder da direita colombiana, Álvaro Uribe, considera que existe uma ideologia política chamada “castro-chavismo”. No entanto, o chavismo tem componentes ideológicos diferentes do castrismo.

A Revolução Bolivariana nasceu e cresceu como um projeto nacionalista, embora acabasse adotando elementos marxistas. A Revolução Bolivariana suscitaria simpatia entre grupos nacionalistas em todo o mundo.

Para Chávez, as principais inspirações para sua revolução foram Simón Bolívar, Simón Rodríguez e Ezequiel Zamora, heróis nacionais venezuelanos. O líder venezuelano também não fez segredo de sua simpatia por nacionalistas como o argentino Juan Domingo Perón e o ditador peruano Velasco Alvarado. Chávez também não escondia sua simpatia pelos regimes nacionalistas pan-arábicos. Ele visitaria a Síria em várias ocasiões e recordaria com nostalgia o legado do Gamal Abdel Nasser do Egito.

“O Livro Azul” e a “árvore de três raízes”
O livro fundamental da ideologia criada por Hugo Chávez é “O Livro Azul”. Nele, o líder venezuelano argumenta que os escritores fundamentais de sua revolução são Simón Bolívar, Simón Rodríguez e Ezequiel Zamora. Todos os três são heróis nacionais venezuelanos. No jargão chavista, a união das ideias dos líderes acima mencionados formaria “a árvore das três raízes”.

Segundo Chávez, sua Revolução tiraria de Bolívar a ideia de independência política. De Simón Rodríguez, suas ideias de considerar a América Latina como uma cultura diferente daquela da Europa e da América do Norte. Finalmente, para o comandante bolivariano, ele tiraria de Zamora seu ideal de luta contra “as oligarquias”.

A interpretação de Chávez da “árvore das três raízes” tem um forte componente nacionalista e uma visão hermética do conceito de independência. A separação da Espanha, portanto, implicaria muito mais do que alcançar a autodeterminação: implicaria também uma ruptura cultural com a Europa. Mas também com respeito ao Ocidente e à tradição da democracia liberal.

Norberto Ceresole: Antissemitismo e Nacionalismo
Como candidato presidencial, Hugo Chávez tentou se apresentar como um moderado, distante do marxismo e do nacionalismo radical. Prova disso é a famosa entrevista do líder bolivariano de 1998 com o jornalista peruano Jaime Baily. Entretanto, o governo revolucionário de Chávez nunca escondeu sua simpatia por líderes nacionalistas latino-americanos como o ditador peruano Velasco Alvarado.

Além de expressar sua afinidade ideológica com o líder nacionalista peruano, Chávez também nomeou conselheiros políticos próximos à extrema direita internacional. Prova disso foi a seleção do nacionalista argentino Norberto Ceresole como conselheiro político de Chávez.

O conselheiro argentino era conhecido por sua postura negadora do Holocausto. De acordo com Ceresole, “a deportação e a morte dos judeus sob o sistema nazista foi estruturada sob a forma de um mito”. O nacionalista argentino defendia a necessidade de construir um partido cívico-militar capaz de “pulverizar os partidos políticos”.

Devido a seu radicalismo político, especialmente seu antissemitismo, Ceresole ganhou a antipatia dos outros conselheiros de Hugo Chávez. O polêmico nacionalista argentino entrou em conflito com o marxista José Vicente Rangel, razão pela qual Ceresole deixou a Venezuela. No entanto, Ceresole permaneceu em contato com o regime de Chávez servindo como ponte entre ele e a teocracia iraniana.

Verstrynge: O ex-franquista que assessorou Chávez
Norberto Ceresole não foi o único nacionalista europeu a aconselhar o governo Chávez. Jorge Vestrynge, ex-político e professor franco-espanhol, também trabalhou para o governo de Chávez.

Verstrynge, nascido em Tânger, então território espanhol, declarou-se um fascista em sua juventude. O líder político espanhol colaborou com a ditadura de Franco e esteve próximo ao ministro Manuel Fraga. Quando o regime espanhol caiu, Verstrynge empreendeu uma virada ideológica e juntou-se à Alianza Popular (AP), o nome original do atual Partido Popular espanhol. Mas nos anos 80, ele entrou para o Partido Socialista dos Trabalhadores Espanhóis (PSOE).

Depois de passar pela AP e pelo PSOE, Verstrynge apoiou o Partido Comunista Espanhol, e recentemente o Podemos. Apesar de sua proximidade com a esquerda, o cientista político espanhol não esconde sua proximidade com os grupos nacionalistas de direita. Para Verstrynge, refugiados e imigrantes reduzem o PIB per capita dos países que os acolhem. O líder populista espanhol afirma que a Frente Nacional francesa não é um partido de extrema direita, mas um partido “soberanista”.

Em 2005, Verstrynge assessorou o exército venezuelano. O objetivo do cientista político espanhol era aconselhar as forças armadas bolivianas sobre a guerra assimétrica para resistir a uma “possível” invasão dos EUA ou da Colômbia na Venezuela.

Chávez e o Pan-Arabismo
O mundo árabe tem conhecido numerosos regimes nacionalistas e socialistas. Nasser, Al-Assad, Hussein e Gaddafi promoveram o nacionalismo, a autarquia e a diplomacia e, em alguns casos, o confronto militar com o Ocidente.

Foi Hugo Chávez quem estabeleceu fortes relações com regimes árabes nacionalistas e socialistas, como o iraquiano de Hussein, o sírio de Al-Assad e o líbio de Gaddafi.

Após a primeira Guerra do Golfo (1990-1991), o governante iraquiano Saddam Hussein foi diplomaticamente isolado. Até 2000, nenhum chefe de Estado eleito democraticamente tinha feito uma visita de Estado ao Iraque. Em agosto de 2000, Hugo Chávez Frías visitou Bagdá.

Chávez visitou a Síria como presidente pelo menos três vezes: uma em 2003, uma em 2009 e finalmente novamente em 2010. O ditador sírio Al-Assad já visitou Caracas pelo menos uma vez. Após o início da Guerra Civil síria, o líder venezuelano afirmou em várias ocasiões que Assad era vítima do imperialismo. Chávez pontuou que o ditador sírio não era o responsável pelo desenvolvimento da guerra civil.

O líder bolivariano teve relações positivas com a Líbia de Gaddafi: Chávez visitou a Líbia pelo menos seis vezes enquanto Gaddafi estava no poder como ditador no país africano. Em 2011, Chávez chamaria o tirano líbio de “mártir”.

O chavismo é “antissemita”?
Várias organizações judaicas acusaram o chavismo de ter elementos “antissemitas”. Entretanto, não é possível afirmar que todos os chavistas sejam “antissemitas”, como é evidenciado pela já mencionada atitude de José Vicente Rangel contra Ceresole.

O que é claro é que o regime bolivariano teve relações, pelo menos especiais, com governos e indivíduos supostamente antissemitas e de extrema-direita. A proximidade de Chávez aos regimes pan-arabistas, à teocracia iraniana e a pessoas como Norberto Ceresole não pode ser escondida.

Embora fosse ingênuo equiparar o chavismo à extrema direita nacionalista, existem laços comuns entre os dois grupos ideológicos. O militarismo, o nacionalismo, a rejeição do liberalismo, a hostilidade à democracia representativa, a defesa do protecionismo e as relações com os indivíduos e organizações acima mencionados são provas desta ligação.

Fonte: PanAm Post