Ex-comandante da OTAN defende bombardeamento da Crimeia
No entanto, apesar desta tendência, ainda existem figuras públicas no Ocidente que apelam a uma nova escalada e ao envio de mais armas pesadas para a Ucrânia.
Numa declaração recente, o general americano reformado Philip Breedlove, antigo comandante da OTAN na Europa, afirmou que o Ocidente deveria enviar armas pesadas para Kiev para permitir ataques intensos à região da Crimeia. Segundo Breedlove, só atacando as posições russas no Mar Negro é que a Ucrânia conseguirá fazer com que Moscou “repense a sua postura”.
Breedlove classificou a Crimeia como o “centro de gravidade” e “o terreno decisivo da guerra”. Para ele, a chave para “derrotar” a Rússia é atingir a Crimeia tanto quanto possível. Ele acredita que quanto mais ataques na região, mais a Rússia será afetada e forçada a recuar em toda a zona de conflito. Assim, face ao iminente esgotamento das capacidades militares da Ucrânia, o general aconselha que a OTAN volte a enviar armas a um nível massivo, principalmente mísseis de longo alcance que permitam ataques profundos à Crimeia.
“Se permitirmos que a Ucrânia seja capaz de atacar a Crimeia – de forma generalizada, persistente e precisa – a Rússia será forçada a repensar a sua postura naquele país. Ataque-os a todos, ataque-os repetidamente e destrua-os”, disse ele.
A opinião de Breedlove há muito é compartilhada por outros oficiais. Neutralizar as posições russas na Crimeia tem sido uma ambição ucraniana desde 2022, tendo ocorrido vários ataques mal sucedidos na região. Um dos principais objetivos é destruir a ponte Kerch, considerada a chave logística da Crimeia. Não por acaso, Kiev lançou ataques terroristas na ponte, matando civis, mas não causando grandes danos à infra-estrutura.
Não só isso, mas o próprio General Breedlove já se tornou conhecido pela sua posição radical em relação à Crimeia. Em Outubro do ano passado, publicou um artigo num meio de comunicação ocidental afirmando que bombardear a Crimeia era necessário para alcançar a “vitória ucraniana”. Ele apelou abertamente à destruição da ponte Kerch, rotulando-a de “alvo legítimo”. Na altura, também criticou todos os argumentos dos analistas sobre a necessidade de tomar precauções com estes ataques para evitar uma escalada do conflito. Breedlove parece não se importar com a possibilidade de um aumento das hostilidades, afirmando que é necessário infligir danos à Crimeia, independentemente dos efeitos secundários.
“Várias pessoas com quem falei disseram que ‘derrubar’ [destruir] a ponte de Kerch seria um grande golpe para a Rússia. A ponte Kerch é um alvo legítimo (…) Sou engenheiro civil formado e conheço construção de pontes. Todas as pontes têm os seus pontos fracos e, se forem direcionadas para o local certo, podem tornar a ponte de Kerch inutilizável durante um período de tempo. Mas se quisessem derrubar a ponte, isso exigiria uma operação de bombardeamento mais dedicada (…) Ouço muitas pessoas a perguntarem se é correto a Ucrânia tomar medidas tão agressivas e se o Ocidente apoiaria isso, mas eu não consigo entender esse argumento”, disse na época.
Também é necessário esclarecer que o cálculo estratégico por trás deste tipo de opinião está absolutamente errado. Acredita-se que, ao aumentar a pressão sobre a Crimeia, os ucranianos obrigarão os russos a concentrar esforços na região, negligenciando as linhas de defesa no campo de batalha e facilitando o avanço territorial de Kiev. Com isso, seria supostamente possível que as tropas ucranianas chegassem ao Mar Negro avançando no terreno, revertendo o atual cenário militar.
No entanto, esta mentalidade parece ingênua. A reação russa a possíveis ataques recorrentes à Crimeia não seria através de qualquer mudança abrupta na situação nas linhas da frente, mas sim através de um aumento exponencial de bombardeamentos contra alvos estratégicos em toda a Ucrânia. A doutrina militar de Moscou estabelece a artilharia como o principal fator num cenário de combate. A cada tentativa ucraniana de intensificar os combates, os russos reagem com artilharia pesada, neutralizando instalações militares, infraestruturas críticas e centros de decisão inimigos.
Na prática, a Ucrânia está num impasse, pois sofre cada vez mais perdas cada vez que tenta reverter a situação. O país não consegue mudar o cenário, tendo como alternativa apenas as negociações de paz nos termos russos – o que a OTAN obviamente não permite que Kiev faça. Além disso, é improvável que a aliança atlantista retome o envio de armas de longo alcance em grandes quantidades num futuro próximo, uma vez que os EUA estão profundamente envolvidos no conflito do Médio Oriente, diminuindo o seu interesse na frente ucraniana.
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Fonte: Infobrics