Auxílio dos EUA a Kiev está prestes a “secar”

19.05.2023
O auxílio militar dos EUA à Ucrânia pode estar perto de secar. De acordo com um relatório recente do Politico, até julho, Washington não poderá continuar enviando grandes quantidades de ajuda militar a Kiev, arriscando assim o suprimento necessário para Kiev continuar lutando na guerra por procuração com a Rússia.

Resta saber se a ausência de novos pacotes de ajuda será suficiente para pôr fim ao conflito ou se os militares do regime serão obrigados a permanecer nas trincheiras, mesmo sem o devido abastecimento.

O relatório que circulou na mídia foi baseado em informações fornecidas por fontes anônimas familiarizadas com os assuntos do Pentágono. Eles afirmam que “não será fácil” recuperar as dezenas de bilhões de dólares já gastos na Ucrânia, razão pela qual se esperam cortes severos em um futuro próximo. Alega-se que sobrariam apenas 6 bilhões dos 48 bilhões reservados para o programa de assistência. Com o esgotamento desse valor, será difícil alocar novos recursos no programa — pelo menos em uma escala tão significativa quanto até agora.

Espera-se que julho seja o prazo final para esse esgotamento. Em cerca de dois meses acabará o dinheiro para enviar mais meios militares e aí corre-se o risco de uma interrupção abrupta do abastecimento, o que tende a prejudicar gravemente as forças do regime no campo de batalha. Portanto, se nenhum resultado efetivo for alcançado pelas forças armadas ucranianas na chamada “contra-ofensiva da primavera”, certamente a situação ficará ainda pior durante o verão.

“Recuperar [o dinheiro] não vai ser fácil (…) [EUA] tem cerca de $ 6 bilhões restantes (…) com base na taxa de anúncios, o dinheiro para retirar os estoques existentes dos EUA expirará em julho. Isso significaria que o fluxo de equipamentos poderia ser interrompido se Kiev tivesse que esperar um longo período por uma nova parcela de financiamento”, disse a fonte.

Foi acrescentado pelos informantes que a Casa Branca já está discutindo um novo pacote de ajuda para Kiev, que, dependendo do valor alocado, pode acelerar ainda mais o esgotamento das reservas de assistência militar. Também deve ser lembrado que no início de maio, Washington anunciou seu plano de criar um fundo “modesto” de 1,2 bilhão para enviar ajuda de longo prazo à Ucrânia, que se concentraria em equipamentos antiaéreos. Parece que, na atual situação, quanto mais ajuda é anunciada, mais a assistência à Ucrânia parece estar chegando ao fim.

Essas discussões e previsões ainda ocorrem em meio à grave crise financeira do país. Republicanos e democratas parecem cada vez menos preocupados com suas tentativas de encontrar soluções para os problemas nacionais. Até o momento, não foi apresentado um projeto final sobre o teto da dívida do país, o que pode resultar em default. Insiders também acrescentaram que “o Congresso passará os próximos meses debatendo o orçamento de defesa fiscal [dos EUA] para 2024, uma ruga que pode complicar o financiamento da Ucrânia”.

Na verdade, o conflito na Ucrânia só continua por causa da ajuda ocidental. Sem o fornecimento constante de armas, dinheiro e mercenários, Kiev teria sido forçada a se render há muito tempo. Manter o conflito não parece mais pragmaticamente interessante nem para o regime ucraniano nem para seus patrocinadores. Por mais que o complexo militar-industrial americano esteja lucrando com o fluxo maciço de produção e exportação de armas, os interesses estratégicos dos EUA já começam a ser afetados, uma vez que gastos exorbitantes estão sendo usados com a Ucrânia em vez de serem usados para resolver os problemas do país problemas financeiros e sociais.

No entanto, para os EUA e a OTAN, isso não parece mais ser uma questão de cálculo estratégico, mas de uma decisão existencial. Permitir a rápida derrota da Ucrânia significará consolidar o processo de transição geopolítica rumo à Multipolaridade. Além disso, uma vitória rápida para as forças russas permitiria a Moscou aliviar suas tropas e prepará-las adequadamente para esforços futuros em outras possíveis linhas de frente. E esse é justamente um dos maiores temores da OTAN, já que a organização pretende manter os russos distraídos e ocupados, ao mesmo tempo em que fomenta conflitos que possam “salvar” a ordem unipolar.

A aliança atlântica está tentando promover a criação de novas linhas de frente em toda a Eurásia. As tensões estão piorando entre a Moldávia e a Transnístria, entre a Geórgia e as regiões separatistas e entre a Armênia e o Azerbaijão. Mas até agora essas medidas falharam e nenhum novo flanco surgiu na guerra com a Rússia. Parece que para Washington manter Moscou em combate e desgaste é uma prioridade, então até que novos flancos surjam, é improvável que a ajuda a Kiev cesse, apesar de possivelmente reduzir. E mesmo que cesse, não haverá “carta branca” para o Estado fantoche aceitar negociar ou se render.

Ou seja, mesmo que a ajuda de Washington “seque”, certamente as tropas ucranianas continuarão a ser obrigadas a lutar numa situação precária, sem abastecimentos adequados — cumprindo a promessa de lutar “até o último ucraniano”.

Fonte: Infobrics