Rodolfo MacGyver: prudentino na guerra civil da Ucrânia
O prudentino Rodolfo Cunha Cordeiro, 33 anos, mais conhecido como “Rodolfo MacGyver”, ficou famoso nas páginas deste diário ao entrar na linha de frente na guerra civil da Ucrânia. No conflito há praticamente sete anos, o atual comandante de um grupo especial de resposta rápida da República Popular de Donetsk, recebeu medalha pela participação voluntária nas ações realizadas nos anos de 2014 e 2015.
A condecoração entregue no mês passado é destinada a alguns voluntários estrangeiros que estiveram no conflito. “Chama-se dobrovolets, que em português quer dizer voluntário”, explica Rodolfo. A medalha, segundo o combatente, foi concedida pela guarda nacional cossaca, que também o denominou de “cavaleiro cossaco”, durante a participação nos combates. “Hoje, sou o último brasileiro na guerra da Ucrânia, e atuo num grupo especial de resposta rápida”, afirma.
MacGyver, antigo morador do Conjunto Habitacional Ana Jacinta, conta que o trabalho consiste em atuar em operações especiais, mas que em algumas oportunidades, também estão autorizados a fazer segurança pessoal de autoridades da república, bem como atuar em algum tipo de operação em regiões de fronteira. No entanto, salienta que a especialidade da equipe é a atuação em ambiente urbano, a luta contra o crime organizado e também operações antiterrorismo.
Crise política e econômica
Conforme noticiado por O Imparcial, em 2014, Rodolfo deixou o cargo de agente de segurança e o curso de Direito para embarcar por conta própria em uma viagem para Donbass – como é chamada a região do extremo leste da Ucrânia, país que, desde 2013, vivencia uma intensa crise política e econômica. Em um contexto geográfico, Donbass engloba a autodeclarada República Popular de Donetsk, onde passou a integrar as Forças Armadas.
Em um resgate histórico, as ruas de parte do território ucraniano foram tomadas por manifestações de grupos pró-russos após o ex-presidente ser pressionado a assinar acordos com a União Europeia e se afastar das relações com a Rússia. Depois que a revolta pró-europeia resultou na destituição do líder, grupos separatistas emergiram em combate ao novo governo e em defesa da população russa contra os “ataques ucranianos”. Foi então que, para prestar solidariedade a este povo, Rodolfo atuou como combatente até 2017, e passou a integrar as tropas internas do Ministério do Interior.
Três anos após conceder entrevista a este diário, MacGyver afirma que o cenário da guerra civil continua uma “situação bem tensa”. “A guerra acontece já faz 7 anos, e imagino que está longe do fim. Uma da opções que poderia dar certo para acabar o conflito seria colocar pacificadores da ONU [Organização das Nações Unidas] na região da fronteira em ambos lados até estabelecer um acordo de paz no qual a república tem buscado, mas a Ucrânia não aceita o referendo feito pelas regiões independentes em 2014 e de terem se separado”, analisa Rodolfo.
Pandemia X A guerra
O cenário pandêmico da Covid-19 não trouxe implicações na guerra. Isso porque, conforme MacGyver, a doença está “bem mais controlada”, até pelo fato de as fronteiras estarem fechadas desde 2014. “Tem controle muito rigoroso de quem entra e quem sai, sendo que do lado russo só podem entrar cidadãos da república com endereço registrado. Por esse e outros fatores, como fechamento das fronteiras para turismo de estrangeiros, a destruição total do aeroporto e o fechamento do espaço aéreo ajudou bastante a não ter tantos casos como em outros países”, explica.
Outro fator importante, segundo ele, foi que no ano passado, mesmo sem ter casos confirmados da doença, todas as medidas preventivas começaram a ser tomadas de maneira precoce, como restrições no comércio, e o descumprimento de regras têm gerado multas “bem altas”, conforme MacGyver.
Agora, como o último brasileiro na guerra, Rodolfo Cunha Cordeiro não pensa em vir embora tão logo. “No primeiro ano me senti como um peixe fora d 'água. Mas, com o tempo me acostumei com tudo, falo russo fluente, e é muito legal ver a reação das pessoas quando sabem que sou brasileiro. Sempre fui bem recebido”, conta. Ao ser questionado se pretende ficar até o término da guerra, a resposta não foi outra: “sim, é claro!”.