A Coragem como virtude fundamental na transição para a Multipolaridade
Se colocarmos nossos pés na tradição helênica, que possui relevância para a civilização europeia, mas também para outras civilizações próximas ou relacionadas (como a ibero-americana), veremos o destaque dado por filósofos como Aristóteles à virtude da coragem (ἀνδρεία). Considerada a virtude máxima dos espartanos ─ como podemos deduzir dos Ditos dos Espartanos, de Plutarco ─, segundo Aristóteles, a virtude da coragem envolvia uma disposição de enfrentar um risco existencial real, porém não privado de esperança, em prol de uma finalidade digna. Aristóteles nega, portanto, que estamos lidando com a virtude da coragem quando o perigo não é existencial, quando não há chance de triunfo ou quando não há finalidade digna. A coragem, logo, como todas as virtudes aristotélicas, envolve um objeto correto, um modo correto e um momento correto, em uma espécie de medida exata entre os extremos do medo e da confiança.