Heidegger

O Fenômeno da Guerra: Metafísica, Ontologia, Limites

03.07.2024

Não seremos capazes de entender toda a profundidade do atual confronto sem uma reflexão filosófica. Os filósofos sempre interpretaram a guerra como algo necessário. Heráclito fala da guerra como o “pai das coisas”: πόλεμος πάντων μεν πατήρ εστί, πάντων δε βασιλεύς. A guerra sempre constituiu o mundo e o espaço. Sem guerra, sem divisão, o mundo é impossível. Isso quer dizer que, em certo sentido, a guerra tem sido interpretada como um ato cosmológico. Há uma certa romantização da guerra em Tucídides e Sócrates, que eram teóricos da guerra. Ao mesmo tempo, há uma divisão muito interessante que precisamos fazer hoje para analisar o conflito com a Ucrânia. Não é que a guerra seja sempre boa ou sempre ruim, mas há guerras boas e guerras ruins. As guerras boas são guerras com um inimigo externo. Elas não são condenadas por Tucídides, Sócrates ou Xenofonte. E há as guerras internas. Essas geralmente são vistas de forma negativa. Nas Leis de Platão, o termo grego πόλεμος é usado (como em Heráclito) para denotar uma guerra externa, em oposição a uma guerra interna – discórdia, vεtκος (como em Empédocles).

Otimismo escatológico: origens, evolução e direções

Otimismo escatológico: origens, evolução e direções
31.12.2022

O tema do otimismo escatológico é um tema bastante perigoso e complexo. É perigoso porque nunca foi desenvolvido até este ponto, está repleto de muitas armadilhas, muitas imprecisões. Quando eu estava tentando me preparar para a palestra de hoje, percebi que embora tal hipótese de otimismo escatológico possa explicar muitos processos históricos e filosóficos, dar-lhes conteúdo e dimensões adicionais, contexto e profundidade adicionais, ainda há muitas perguntas. Assim, enquanto me preparava, estava constantemente me questionando e procurando por contradições. Por outro lado, pensei que tenho todo o direito de trazer esta hipótese à sua discussão, pois, no final, aquelas doutrinas que convergem são sempre imperfeitas.

A Dimensão Coletiva do “Dasein”

A Dimensão Coletiva do “Dasein”
26.12.2022

O que para o liberalismo é o indivíduo, para o marxismo é a classe social e para o neoliberalismo o “pós-indivíduo”, quer dizer, o sujeito sobre o qual se assenta uma teoria política, para a Quarta Teoria Política (daqui para a frente QTP) é o Dasein. O Dasein é, segundo Heidegger, o ser humano entendido como “ser-aí”, como único ente capaz de “perguntar pelo ser” e que é ao mesmo tempo ser-no-mundo, ser-no-tempo e ser-com-os-outros. Neste artigo nos concentraremos no Dasein e em explicitar sua dimensão coletiva e suas características existenciais que o diferenciam do sujeito cartesiano, que é o correlato metafísico do indivíduo como sujeito do liberalismo, primeira teoria política da modernidade.