GEOGRAFIA POLÍTICA: A ÁFRICA É O CORAÇÃO DO MUNDO
A geopolítica é uma disciplina nascida na Europa no início dos anos 1900 e seus pais desenvolveram teorias. O objetivo do Africano no século 21 deve ser estudar, revisar essas teorias e propor sua própria visão em um mundo dominado por ideologias.
TEORIA DE MACKINDER
Halford John Mackinder, britânico de nacionalidade, foi o pai da geopolítica (para o mundo ocidental, sejamos precisos), geopolítico, geógrafo e explorador. Ele desenvolve em seu livro "The Geographic Pivot of History" (publicado em 1904) uma teoria que será fortemente dominante nos círculos geopolíticos e determinará até mesmo o destino e algumas decisões políticas. Mackinder acreditava (de acordo com a configuração ideológica européia) que havia uma luta eterna entre as civilizações do mar e da terra (falei sobre isso em um artigo em nosso site Nofi Media intitulado "Géopolitique: la théorie des grands espaces civilisationnels") e identificou um coração da Terra ele chamou de Heartland, que era (segundo ele) o Império Russo (atual Rússia e os antigos territórios da União Soviética). Para Mackinder, o que ele chamou de Heartland (Eurásia), era uma civilização terrestre, um coração da Terra porque era sem litoral, inatacável por qualquer potência marítima (Europa Ocidental e Estados Unidos) e rico em recursos. Sua preocupação girava em torno da possibilidade de que o Império Russo pudesse ser uma potência e substituir irrevogavelmente a potência baseada no expansionismo marítimo (imposto pelo imperialismo britânico na época). Nesse sentido, Mackinder definirá a Eurásia como o Heartland do mundo (em sua visão) e chegará a afirmar "Quem controla a Europa Oriental comanda o Heartland e quem controla o Heartland comanda o mundo". Uma frase e uma visão que será contestada por outro dos pais da geopolítica, o americano profundamente ocidentalista, atlantista e eurocentrista chamado Nicolas Spykman. Uma frase e uma visão que também deve ser contestada pelos Africanos segundo uma visão ancestral.
TEORIA DE SPYKMAN
Nicolas Spykman, americano e outro dos pais da geopolítica, baseou-se nos estudos de Mackinder para propor um outro ponto de vista. Spykman achou que Mackinder estava enfatizando demais o conceito de Heartland. Então ele propôs uma interpretação geopolítica alternativa. Para o americano Spykman, o verdadeiro centro de poder não estava no Heartland, mas no que ele chamava de Rimland. Rimland se traduz como "região costeira" e para Spykman incluía toda a Europa Ocidental e o sul da Ásia. Spykman afirmará "Aquele que controla o Rimland governa o Heartland, e aquele que controla o Heartland governa o mundo". Esta afirmação pode parecer uma oposição parcial à de Mackinder, mas é claro que Spykman via o Rimland como superior ao Heartland e que tudo deveria girar em torno da Europa. Mas se há uma coisa que Spykman e Mackinder compartilham, é que ambos acreditam que as áreas ao redor da Rússia atual precisam ser controladas para evitar que a Rússia emerja. Mackinder e Spykman até defenderam a criação de nações artificiais, com histórias e culturas artificiais, estranhas à Rússia, de modo que o que era chamado de Heartland nunca pudesse ser um verdadeiro centro de poder. Estrategicamente, isso beneficia as civilizações marítimas (os Estados Unidos e seu satélite, a Europa). Podemos assim compreender que o conflito interétnico russo-ucraniano encontra as suas causas e fundamento nas teorias do século XX de figuras ocidentais que tentaram designar o mundo em pleno conflito durante o que se convencionou chamar de primeira e segunda guerras mundiais. Pessoas como Mackinder e Spykman haviam, até certo ponto, prefigurado a organização geográfica pós-Segunda Guerra Mundial, instituições como a OTAN e a ONU, a Guerra Fria e a necessidade de controlar o Heartland-teorizado por Mackinder.
MINHA VISÃO: A ÁFRICA É O CORAÇÃO DO MUNDO
No dualismo Mackinder/Spykman, qual era o papel e a posição da África? Ponto de interrogação importante. Na disciplina geopolítica de hoje, o Heartland é visto como a Eurásia, o Rimland como a Europa Ocidental e o Sul da Ásia, enquanto o resto do mundo como as Ilhas Estratégicas e Distantes. Como Africanos, devemos desafiar esta visão eurocêntrica.
Cada civilização tem uma visão particular de se ver geograficamente e também de ver os outros. Todos nós estamos acostumados a ver a África como o hemisfério sul. É realmente assim?
1- Normalmente, sendo os países africanos mais quentes, é muito mais lógico que estando perto do sol, sejam do norte;
2- É interessante notar que o termo "Zulu" significa "céu" na língua indígena e que o Povo Zulu na verdade se considera o Povo do Céu, o Povo Nórdico, aquele que está mais próximo do Criador Unkulunkulu. Também é interessante a representação do Alto Egito (agora sul do Egito) e do Baixo Egito (agora norte do Egito) no mapa do Antigo Egito. De um modo geral, muitos povos da África consideram-se o seu norte e ao mesmo tempo o coração da Terra, portanto o seu próprio Heartland;
3- Existem 3 visões cartográficas que se chocam (por razões puramente políticas): o mapa de Mercator (o de uso comum), criado pelo geógrafo eurocêntrico Mercator, que coloca a Europa no centro para ajudar os navegadores europeus a se locomoverem pela terra. Este mapa representa a África e a América do Sul em tamanho reduzido. Depois, há o mapa de Peters, que representa a África e a América do Sul em tamanho maior e o Ocidente em tamanho menor. E, finalmente, há a visão afrocentrada que inverte Sul e Norte e relativiza Norte e Sul. Chegou a hora de os africanos começarem a se ver novamente como seu epicentro.
Mackinder, em 1919, tinha visto a África Negra como o "Southern Heartland" (coração da Terra Meridional) ainda que nunca tenha elaborado o conceito a nível teórico (provavelmente devido aos preconceitos da época em relação ao continente africano). O que os Mackinders e Spykmans, entre outros, não desenvolveram concretamente, os Africanos terão que fazer de acordo com seu paradigma. De acordo com Mackinder, uma das características importantes do Heartland é o controle da terra, enquanto de acordo com Spykman a característica mais importante do Rimland deve ser o controle do mar. A África controla todos esses recursos: terra e água. O Oceano Atlântico já foi um ponto de conexão com as Américas para o grande Império Manden, enquanto o Mediterrâneo foi um ponto de conexão para os egípcios com a Europa e o mundo muçulmano. Na visão africana, a África certamente não faz parte de uma simples ilha estratégica/periférica ou de um segundo Heartland depois da Eurásia, mas é o que eu chamo de "Mowo ya dunia" (que significa em Swahili, a língua mais falada na África, "coração do mundo''). O primeiro e verdadeiro coração do mundo. A África é a matriz da humanidade e de todas as civilizações, o continente mais rico do planeta (pelo qual hoje todas as potências lutam para ter acesso a este coração do mundo) e pode controlar estrategicamente tanto a terra quanto as águas. Se ela se libertar dos poderes exógenos, se emancipar dos males internos, terá obtido sua soberania integral, terá se unido e consolidado em um poderoso Império Negro, a África liderará a humanidade em em sua totalidade. A África tem uma missão e deve entender que o epicentro de tudo não é a Eurásia nem o Ocidente, mas a própria África. O mundo entende o potencial da África, que esse mesmo mundo precisa para existir. A partir desta análise de meu, então afirmo ''Quem controla a África comanda Mowo ya dunia; aquele que controla Mowo ya dunia guia o mundo e seu destino''. No mundo multipolar emergente, a África será o pólo central. Artigo escrito
por Farafin Sandouno em nofi.media