O Racismo Escatológico de Israel
Essa semana, no Dia da Bandeira de Jerusalém, centenas de sionistas messiânicos invadiram a área da Mesquita Al-Aqsa para profanar o local com seus ritos e provocar a população muçulmana de Jerusalém.
A invasão foi convocada pelos kahanistas do sionismo religioso em comemoração à conquista de Jerusalém em 1967 e se dá em violação da legislação que estipula o compartilhamento de Jerusalém e a custódia dos locais sagrados da cidade.
Os sionistas em marcha entoavam slogans como "Morte aos árabes" e coisas do tipo, enquanto atacavam transeuntes e vandalizavam lojas de propriedade palestina, reivindicando o controle total de Jerusalém e a destruição da Mesquita Al-Aqsa para a construção do Templo de Jerusalém.
Não há nada de particularmente novo nessa marcha, exceto pela intensificação da violência das manifestações. Mas o racismo, em si, não é novidade: ele é parte intrínseca da perspectiva sionista, e no sionismo religioso assume características escatológicas.
Para as fontes religiosas que informam o sionismo, trata-se aí, em primeiro lugar, de garantir para o "povo escolhido" a exclusividade sobre o território prometido por Jeová aos patriarcas hebreus, o que segundo os revisionistas e os religiosos abarca desde o Nilo até o sul da Turquia, chegando no leste até ao Eufrates e no sudeste até o noroeste da Arábia Saudita. De fato, o Plano Oded Yinon divulgado nos anos 80 prevê a desestabilização dos países vizinhos para que Israel pudesse organizar o seu expansionismo e revisar as próprias fronteiras.
Em segundo lugar, trata-se aí, além da conquista da "Terra Prometida", da restauração do Templo de Jerusalém e dos ritos do templo. O problema, aí, é que para o Judaísmo medieval pré-cabalista, de tendências quietistas, o judeu deve aguardar pacientemente a vinda do Messias e o retorno à Terra Prometida, no tempo de Deus. De modo que essa visão aceleracionista, presente já em Isaac Luria, mas que vai se intensificando gradualmente até culminar no movimento sionista, constitui uma visão herética em relação ao tradicionalismo judaico.
Em terceiro lugar, essa restauração do Templo para a vinda do Messias (que envolve, aí, o sacrifício do novilho vermelho), está dirigida para garantir a supremacia do "povo eleito" sobre o mundo, com a redução de todos os outros povos, vistos como gado, como não humanos, ao status de escravos. Naturalmente, essa hegemonia não tem como ser garantida exclusivamente pelo poderio militar do Estado de Israel, sendo necessária, portanto, a construção de uma rede internacional de subversão e influência que atua na política, na economia, na cultura, etc.
De modo que essas marchas supremacistas de sionistas em Jerusalém e essas invasões a Al-Aqsa não constituem atos isolados ou arroubos de extremismo, mas parte de uma práxis organizada enraizada em uma tradição escatológica específica, a qual, em alguma medida, faz parte de uma doutrina ensinada a todos os israelenses e à maioria dos judeus ao redor do mundo - mesmo que poucos sejam tão vocais e explícitos quanto os kahanistas.
Naturalmente, diante dessa situação, a elite do Hamas já se pronunciou oficialmente sobre o caso, dizendo que Jerusalém era o verdadeiro núcleo de todo o conflito Israel-Palestina, e que a luta travada pelo Hamas continuaria até a construção de um Estado Palestino com Jerusalém como capital.