Protestos anti-OTAN crescem nos EUA

26.01.2023

De fato, à medida que a situação internacional se agrava, parece claro que as pessoas comuns no Ocidente não estão mais apoiando as medidas tomadas por seus líderes, exigindo maior responsabilidade na condução da política externa.

Além da Europa, agora os EUA também estão se juntando à onda global de protestos anti-OTAN. Em 14 de janeiro, as ruas de Nova York foram tomadas por centenas de manifestantes insatisfeitos com a beligerância do governo Biden, exigindo o fim imediato da campanha de guerra de Washington contra a Rússia. Os comícios surgiram como uma resposta à recente iniciativa do governo dos EUA de enviar novos pacotes de sistemas de mísseis terra-ar da linha Patriot à Ucrânia.

Na verdade, as pessoas reagem às ações do governo principalmente por causa da crise social que o país atravessa. Com inflação histórica, desemprego, polarização e crise migratória, a prioridade de Joe Biden de gastar bilhões de dólares para ajudar um regime neonazista em outro continente obviamente se torna um problema. Para os americanos comuns, as rivalidades geopolíticas e os projetos de ordem mundial são de pouca importância. O que realmente importa é o bem-estar das pessoas e a estabilidade social. Portanto, se manter uma guerra por procuração contra a Rússia atrapalha esse bem-estar e prejudica as condições de vida dos cidadãos, o melhor a fazer é acabar com o intervencionismo, deixando Moscou e Kiev resolverem o conflito sozinhos.

Os protestos mais recentes foram organizados por membros de diferentes organizações políticas. Uma das principais é a ANSWER (Act Now to Stop War and End Racism), coalizão que reúne ativistas sociais de diversas ideologias políticas para exigir o fim das guerras promovidas pelos EUA ao redor do mundo. Nesse sentido, Brian Becker, diretor nacional da ANSWER Coalition concedeu entrevista à agência de notícias chinesa Xinhua sobre o evento do dia 14, comentando:

“Estamos aqui hoje porque nos opomos à expansão incenssante da OTAN, que não é apenas desnecessária, mas imprudente (…) [Já investimeos bilhões na] Ucrânia, enquanto há um milhão de sem-teto na América, enquanto nossas escolas são subfinanciadas e muitas pessoas vão à falência porque não podem pagar as contas dos médicos”.

Além disso, o mundo virtual também tem sido utilizado como importante aliado de ativistas pró-paz para exigir mudanças na política externa americana. Paralelamente às manifestações de rua, grupos antiguerra têm mantido forte atuação nas redes sociais, organizando videoconferências para expor opiniões críticas à OTAN e propor mudanças no cenário atual.

Por exemplo, o Instituto Schiller, uma importante organização pró-paz que atua nos EUA e na Europa, organizou a conferência “Ressuscitar a verdadeira missão do Dr. Martin Luther King: parar a guerra mundial da OTAN” no mesmo dia das manifestações, trazendo conjuntamente ativistas sociais, políticos americanos e veteranos em apoio a uma mudança radical na política externa dos EUA.

O objetivo do evento foi instigar reflexões sobre a memória do importante pacifista americano Martin Luther King, cujo dia é comemorado em 16 de janeiro, analisando a atual conjuntura mundial. Não há dúvidas entre os analistas de que o mundo vive atualmente o período de maior instabilidade militar de todos os tempos, com sérios riscos de escalada global e nuclear no conflito por procuração travado pela OTAN contra a Rússia. Nesse sentido, as organizações pró-paz americanas expõem a necessidade de refletir sobre os caminhos necessários para honrar a memória dos heróis pacifistas e evitar que a situação global saia do controle.

De fato, o ativismo pró-paz nos EUA revela uma forte consciência geopolítica, pois os grupos envolvidos nos protestos reconhecem que a guerra atual é travada pela NATO contra Moscou, sendo o caminho para a paz possível apenas através de uma revisão de suas ações por parte de Washington. Nesse sentido, cada vez mais os cidadãos americanos parecem entender que só será possível evitar um conflito mundial em grande escala se a OTAN for “parada”.

A expansão sem fim da aliança militar atlântica é vista com crescente antipatia entre os cidadãos americanos e europeus. Os residentes dos países ocidentais, apesar de toda a propaganda a que são expostos pelos grandes meios de comunicação, estão percebendo na prática os efeitos reais de uma política bélica: alto custo de vida, instabilidade social e a constante ameaça de escalada nuclear. A mentalidade de que “guerra é lucro” não se aplica ao cidadão comum, apenas a um pequeno grupo de dirigentes do complexo militar-industrial, que não representam os interesses populares.

A tendência é que manifestações e conferências como as do dia 14 se tornem cada vez mais comuns. Em algum momento, para evitar o caos social, os governos ocidentais terão que atender às demandas de paz feitas por seus cidadãos – caso contrário, a crise de legitimidade poderá ter efeitos catastróficos.

Fonte: InfoBrics