Os Negros são os Aborígenes da humanidade
Hoje a maioria dos investigadores, antropólogos, paleontólogos ou historiadores, partilham a afirmação de que África è a matriz da Humanidade. Isto faz dos Negros os Aborígenes da Humanidade, ou seja, os Povos Originais do mundo. A matriz Negra, como demonstrado por Cheikh Anta Diop e muitos dos seus discípulos, reside na Civilização KMT (Kemet). KMT è o nome dado ao Egito pelos nativos, significando “Terra pertencente aos Negros”. Cheikh Anta Diop aborda de forma abrangente a questão do Egito Negro, com evidências científicas, historiográficas, linguísticas e culturais, em seus livros ‘’Nations Nègres et Culture’’, ‘’The Origin of African Civilization’’, ‘’Precolonial Black Africa’’ , ‘’Civilisation ou barbarie’’, ‘’Antériorité des civilisations nègres: mythe ou vérité historique?’’ e muitos outros livros. Partindo da sua teoria de uma matriz comum para os negros identificada no KMT, ele afirmará no seu livro “Black Africa: The Economic and Cultural Basis for a Federated State” a necessidade dos africanos construírem um Estado Federal Negro, que poderia ser o equilíbrio certo entre a glória do KMT e a era contemporânea. Quando falo de um Pólo Negro, o Neter Farafina Himaya, è justamente a dinâmica de Cheikh Anta Diop que estou acompanhando.
O Homem Original è História, está presente em todo o lado e deixou vestígios por todo o lado. Hoje, são feitas tentativas de contrastar os Negros Africanos com os Aborígenes da Austrália, os Dravidianos da Índia e outras populações melanodérmicas. Na realidade, todos são descendentes do Homem Original da África Negra. O que as diásporas Negras em todo o mundo devem compreender hoje è que num período em que os nacionalismos melanodermofóbicos emergem cada vez mais, devemos lembrar que os melanodermos constituem a aboriginalidade do mundo. Isto legitima a necessidade de construir uma globalidade Negra (melanodermismo), baseada na solidariedade global dos povos Negros e Melanodérmicos em geral. Melanodermos que viviam em solidariedade (Ubuntu), realeza e majestade em todos os lugares, mesmo antes do Homem que podemos chamar de leucoderma ver o dia. A África è a base de todo o conhecimento do qual nos beneficiamos hoje (ciência, matemática, física, química, religião, filosofia, astronomia, etc.) e por esta mesma razão, nos tempos antigos, não era incomum que os pensadores da leucodermia fossem e treinassem em África (exemplos? Tales, Pitágoras, Platão, Arquimedes).
Os Negros são a base de tudo e è necessário que os próprios negros e as diversas comunidades Kujichagulistas percebam isso.
Encontro/choque entre os Originais e as populações leucodermas
A certa altura da história Negra, a população recente em escala planetária (descendentes dos Jamna), populaçoes leucodermas, acreditou que o que era novo para eles também era novo para os outros. Ele então começará a liderar uma cruzada contra os Originais. Tudo o que encontrar nas sociedades melanodérmicas originais definirá como “selvagem” e “primitivo”, enquanto tudo o que esta civilização leucodermica descobrir como novo (apenas para si) imporá com força aos outros, em nome de uma suposta missão civilizatória. Esta civilização leucodermica è a mesma que quando foi para as Américas teve a presunção e a arrogância de afirmar ter descoberto um “Novo” Mundo, ignorando que populações originais existem nesta parte do mundo há séculos e milénios. Podemos também tomar o exemplo do conceito de “Nova Ordem Mundial”. È verdade que todos utilizamos esta terminologia para identificar um projecto consistente com o fim do projecto racista de uma missão civilizatória, desta vez alargada à humanidade como um todo, mas vale a pena sublinhar que a Nova Ordem Mundial para os Caucasóides não è necessariamente para as populações escuras nos 4 cantos do mundo que sofreram opressão secular: Austrália, Américas, África, Ásia, etc. O que è novo para uns è velho para outros. Tudo isto deve ser identificado num sistema que caracteriza a globalidade leucodermica, ou seja, a pilhagem e acumulação de bens materiais à custa da opressão (capitalismo). Esta visão nociva do mundo está na origem da escravatura, do colonialismo e do neocolonialismo. Com o tempo, os Negros distanciaram-se da sua matriz Africana, exigindo a integração numa casa em chamas, num mundo civilizacional que foi construído com sangue, belicismo e o ostracismo dos negros e dos povos obscuros em geral. Perante esta realidade, os Negros vêem-se confrontados com 2 dicotomias antagónicas entre si, mas ambas ligadas ao sistema capitalista e ao supremacismo branco: a direita/extrema direita e a esquerda liberal. São todas categorias anti-Negras, portanto contra os Aborígenes da Humanidade. Ambos são produtos da supremacia branca, e os Negros (assim como todos os povos pardos ao redor do mundo) devem estar vigilantes. Daí a necessidade de aplicar o modelo de Kujichagulismo que expus.
Kujichagulidade
O que è necessário è uma kujichagulidade radical, uma ruptura com o sistema capitalista branco (com o seu privilégio branco, hetero-normativo, sexista, racista, colorista e homofóbico). Não deve ser uma separação de hostilidade (mesmo o proletariado branco, obviamente em diferentes graus, sofre e sofre os golpes da elite capitalista), mas uma separação de autodeterminação (comunidades de destino autodeterminadas). O Kujichagulismo responde a esta necessidade de separação e autodeterminação. O Kujichagulismo nos levará à necessidade de nos organizarmos como comunidades coletivas sobre os princípios do Black Power. Isto garantirá o desenvolvimento das diásporas Negras, do Continente Negro, e permitirá uma maior sincronização entre África e as suas diásporas no mundo.
União da Família Negra Global : Luta contro o Racismo
A luta contra o racismo será consubstancial com a criação de comunidades Negras Kujichagulistas (CNK), uma vez que uma comunidade organizada, forte e disciplinada pode responder aos golpes do bárbaro supremacismo económico branco, que asfixia a Família Negra Global com modelos anti-Ubuntu. A luta contra o racismo deve basear-se nisto: na resistência radical ao sistema capitalista branco na diáspora e em África. A supremacia branca e o capitalismo andam de mãos dadas.
‘’Você não pode ter capitalismo sem racismo’’ – Malcolm
“Se um homem branco quer me linchar, o problema è dele, se ele usa seu poder para me linchar, o problema è meu. O racismo não è uma questão de atitude, mas de poder’’ -Stokely Carmichael (Kwame Ture)
União da Família Negra Global : Luta contra a Homofobia
A homofobia è um produto deletério do sistema capitalista branco. Devemos lembrar aqueles que pensam que a homossexualidade è uma “invenção branca”, que na realidade ela estava presente em muitas sociedades pré-coloniais (actual Angola, Camarões, Sudão, Namíbia, Burkina Faso, Nigéria, Costa do Marfim, Gana , Quênia). Knumhotep e Niankhkhnum foram o primeiro casal homossexual da história, viveram no Antigo Egito; podemos citar o rei Mwanga II de Buganda (na atual Uguanda) que também era homossexual antes do advento do cristianismo ocidental; na diáspora Negra podemos recordar a atração de Malcolm X pelos homens na sua juventude ou James Baldwin. A homofobia penetrou em África com a cultura colonial e os seus reflexos reaccionários. Não podemos, portanto, falar de “renascimento Negro” e de “união Negra”, excluindo, perseguindo e oprimindo uma parte da Família Negra Global. Quem age numa lógica de repressão è um anti-Pan-Africanista. Para que haja um Kujichagulismo saudável, terá de haver uma luta feroz contra a homofobia e qualquer discriminação que ostracize parte da Família Negra Global e alimente a supremacia branca. Um dos líderes pan-africanos que teve a coragem de falar publicamente sobre o assunto foi Julius Malema, na África do Sul.
“Os homossexuais não são inimigos do povo. (…) Um homossexual pode ser o mais revolucionário.’’ -Huey P. Newton
União da Família Negra Global : Luta contra o colorismo
Outro câncer do pensamento da supremacia branca e da ideologia colonial è o colorismo. O colorismo è o pensamento racista que gostaria de opor os Negros de pele mais escura e outros Negros de pele mais clara. Devido a um complexo de inferioridade injetado pelo colonizador bárbaro nas mentes dos Originais, pode haver casos em que aqueles que eu defino como Negros claros (e que a supremacia branca, bem como o pensamento unidirecional branco define como “mestiços” ‘ ou ‘mulatos’) rejeitam sua identidade e sua essência Negra, estigmatizando aqueles que são mais escuros que eles. Muitas vezes há também casos inversos, nos quais os Negros escuros verão os Negros claros como uma parte não integrante da Comunidade. São estas divisões horizontais baseadas em reflexos coloniais e racistas que nunca permitirão que a verdadeira união seja alcançada. O Negro claro nascido de casal mestiço è e sempre será Negro.Uma das áreas geográficas onde o colorismo è mais brutal è o Brasil. O ativista Amadu Kunta Akil Bumbesia escreve em um artigo na Nofi Media: “Um exemplo de país onde o racismo e o colorismo são predominantes è o Brasil, onde os mestiços são chamados de Pardo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, è um termo usado para descrever os negros brasileiros de cor clara. Os negros escuros são chamados de pretos (…) O colonialismo, infelizmente, teve uma grande influência na percepção dos afrodescendentes mais escuros. O desejo de conceber filhos mestiços è uma das práticas mais difundidas que demonstra como a pele negra ainda hoje è percebida como uma mancha (…)’’ https://www.nofi.media
Acredito que pouco importa a taxa melanodérmica, somos todos parte integrante da Família Negra Global e carregamos conosco o legado da aboriginalidade humana como Povo Original indivisível.
‘’África è tudo para mim. Tenho de mostrar ao mundo como a minha parte africana continua a ser a mais importante. Mesmo que aos seus olhos eu seja meio branco e meio negro, sei que sou negro. Minha herança vem da África.’’ -Bob Marley
Kujichagulismo na Itália
Há figuras e vozes na Itália que tentam à sua maneira difundir a voz Negra: o Observatório Afropolar, Kwanza Musi Dos Santos, Oumar Barry, Karim Abdul Assahly, Isak Nokho, Selena Peroly (ativismo afrodiaspórico), Blaqkash (música) , Antonio Dikele Distefano através da BlackEvent e muitas outras pessoas/plataformas.
Existem diferentes realidades e diferentes figuras, Mulheres e Homens Negros comprometidos com a comunidade Negra. O que è mais necessário do que nunca è criar uma ligação entre todas as forças Negras (as diferenças pouco importam) para construir algo horizontal, com mentalidade vertical e de elevação. Os Negros de Itália devem organizar-se sob o Kujichagulismo, criar Redes Negras orientadas para a Base Africana, que deverá estruturar-se num Centro Civilizacional Negro, única forma de obter prosperidade, dignidade e respeito comunitário. Um só Deus, um só Povo, um só Propósito!