O Exemplo de Daria Dugina: discurso à juventude dissidente
Camaradas e amigos,
Hoje é um dia muito especial. A Nova Resistência está reunida para celebrar mais um ano de atividades incessantes pela Causa da Multipolaridade. O ano mais próspero para nossa Organização, mas também o mais árduo – e apenas um prenúncio das dificuldades que teremos daqui para frente.
Contudo, nossas fileiras estão incompletas. Alguns Camaradas não estão mais fisicamente entre nós, mas zelam por nossa Causa desde um lugar melhor. Ao longo destes sete anos de existência, a Nova Resistência perdeu para a morte física dois de seus membros: o Camarada André Nogueira, que militou em nossas fileiras no Ceará em 2016; e a Camarada Daria Dugina, postumamente reconhecida como Membro Honorária de nossa Organização.
Ambos, André e Daria, morreram assassinados pelo inimigo. O primeiro abatido por nossos inimigos internos e a segunda pelos párias universais e inimigos do gênero humano. André, no cumprimento de seu dever legal, foi emboscado e covardemente massacrado por criminosos vulgares no Ceará. Daria, de igual maneira, foi morta covardemente, num atentado terrorista nos subúrbios de Moscou, operado, contudo, por sabotadores profissionais vinculados à inteligência ucraniana.
Ao contrário de Nogueira, um homem de armas e profissionalmente apto ao combate, Daria era apenas uma jovem filósofa e jornalista, desarmada e desprotegida, morta exclusivamente pelo fato de ser boa no que fazia, como bem lembrou a querida Maram Susli em conversa recente conosco.
Boa filósofa, cujas ideias, profundamente cristãs e platônicas, soavam demasiadamente subversivas a um Ocidente que podemos chamar não apenas de liberal e materialista, mas também, sem eufemismos, de satânico. E uma boa jornalista, cujas investigações haviam conduzido a descobertas que incomodaram profundamente as elites ocidentes.
Em recente pronunciamento ao povo russo, o Presidente Vladimir Putin comentou que os lacaios ucranianos da OTAN “matam nossos filósofos”. Creio que suas palavras não poderiam ter sido mais diretas para entender o que levou à morte de Daria. Daria morreu porque tinha Ideias perigosas demais para o Ocidente. Mas nem tudo está resumido aqui.
Daria era uma Mulher de Ideias, uma amante do conhecimento, mas era também uma Mulher de Ações. Não uma mera acadêmica contemporânea como os tantos que passam a vida debruçados em livros sem perspectiva de ação e mudança real do mundo. Mas uma Filósofa na perspectiva clássica, em sentido pleno. Consciente e ativa.
E era justamente aí que se encaixava sua face de jornalista e militante. Daria foi correspondente de guerra. Esteve em campo de batalha. Foi amiga dos heróis de seu povo e falou “de dentro”. Esteve na trincheira em todos os grandes momentos de seu país nos últimos anos, seja como uma repórter, seja como uma importante integrante do Movimento Eurasiano Internacional.
Daria, portanto, foi conduzida ao Supremo Sacrifício pelo somatório geral dos perigos que trazia a nossos inimigos. Ela denunciou os erros de nosso mundo e apresentou soluções. Era uma herdeira legítima do legado de seu pai – que eles também tentaram matar. Era, em suma, Exemplo vivo do que significa ser Dissidente: uma Mulher de Ideias, de Ações e de Fé – criada na mais pura piedade ortodoxa.
Caros compatriotas, todos sabemos que o Homem se guia pelo exemplo, que nossa natureza demanda ícones, santos, heróis e notáveis. E talvez a maior desgraça de nossa era seja viver em um tempo em que essas pessoas muitas vezes parecem não mais existir. Faltam santos e heróis. Faltam gênios e notáveis.
E, refletindo sobre isso, percebo o quanto somos privilegiados por termos convivido com Daria Aleksandrovna Dugina. Genial nas Ideias. Notável no Trabalho. E santificada pelo sangue, pois é o Reino dos Céus o destino dos Heróis que dão a vida pela Pátria.
Vejam, Camaradas, que em meio à toda desgraçada de nosso mundo fomos agraciados com o convívio com Daria. Pode nos faltar tudo na vida, mas nunca poderemos dizer que nos falta o Exemplo. E se temos o Exemplo de nada mais podemos nos queixar.
O homem é falho e fraco. O homem erra e trai. Muitos dos que hoje figuram em nossas fileiras nos abandonarão nos momentos de dor. E muitos dos que hoje nos dão as mãos correrão para longe quando se aproximar o passo do inimigo. Por isso, que não cometamos o erro de inspirarmo-nos uns nos outros. Sejamos irmãos, não gurus e seguidores.
Por Mestres tomemos aqueles que sangraram pela Causa e validaram com a própria existência física as convicções que carregaram em vida. Em outras palavras, por Exemplo em tudo que concerne à Causa Dissidente, tomemos Daria.
Exorto-vos, Camaradas: se quereis ser dissidentes, sede como Daria.
E antes que se encerre esta singela homenagem, ressalto ainda outro ponto. Lembro até hoje daquele fim de tarde em que recebi a notícia do atentado contra Daria. Sem pensar duas vezes, redigi um texto concedendo-lhe postumamente, na qualidade de responsável pelas relações exteriores da NR, o título de Membro Honorário e prometendo-lhe o sagrado silencio antes de nossos eventos oficiais.
Poucos entenderam a minha atitude naquele momento, mas espero que a razão já esteja clara para todos: Daria era uma de nós. Viveu e militou conosco. Conversou conosco. Segurou nossa Bandeira e contribuiu tanto quanto lhe era possível para nosso triunfo.
E agora resta o questionamento: como reagir ao assassinato brutal e covarde de um Camarada? Temos muitos exemplos distantes, de notáveis que morreram por suas causas em realidades que não a nossa. Mas como lidar com isso em relação a alguém tão próximo?
Talvez resida aí o grande questionamento a ser respondido em nossos corações. Em minha opinião, ser membro da Nova Resistência em meio à aurora da Terceira Guerra Mundial consiste justamente em refletir todos os dias: o que fiz hoje pela memória de Daria? Em que contribuí na busca por Justiça? O quanto honrei o legado de nossa Camarada?
E, mais do que isso, que tenhamos clara em nossas mentes a certeza de que estamos sendo conduzidos ao mesmo matadouro que Daria. Muitos sairemos vivos, mas também muitos de nós seremos explodidos nas emboscadas do inimigo. E, se realmente somos Dissidentes, se realmente somos Tradicionalistas, se realmente somos como Daria, esta consciência da morte vindoura não é motivo de medo ou angústia, mas um ânimo imensurável em nossa luta.
A Morte não nos destruirá, mas nos unirá com Daria Dugina, com André Nogueira e com todos os Mártires da Causa dos Povos, sejam membros da Nova Resistência ou das Organizações parceiras pelo mundo. Eis o que devemos buscar.
São Paulo, 13 de novembro de 2022,
Lucas Leiroz, Secretário de Relações Internacional da Nova Resistência;
Catarina Leiroz, líder do setor feminino da Nova Resistência.
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- André Nogueira foi membro da Nova Resistência no estado do Ceará, Brasil. Era agente penitenciário e foi brutalmente assassinado por traficantes em 2016.
- Daria Dugina sempre foi próxima dos membros da Nova Resistência e reuniu-se com a delegação da Organização enviada ao Festival Mundial da Juventude em Sochi, 2017. Foi homenageada postumamente com o título de Membro Honorário da Nova Resistência e a sua memória é reverenciada em todos os eventos oficiais da Organização.