Dugin e a luta patriótica brasileira

21.11.2022
Reflexões sobre a importância do “filósofo mais perigoso do mundo” para a causa nacionalista brasileira.

Desde 2021, a Editora Ars Regia já vendeu 450 cópias d’A Quarta Teoria Política e 200 cópias de Teoria do Mundo Multipolar. Então, hoje, as ideias do filósofo russo Alexander Dugin circulam mais do que nunca no Brasil. O que é excelente, já que, para além de análises falaciosas de inimigos ideológicos, ou mesmo de trechos e citações, é com os livros de um autor que se pode compreendê-lo. E Dugin é um autor a ser estudado e compreendido com atenção.

Em primeiro lugar por ser um pensador extremamente prolífico e frutífero, de elevadíssima erudição, com contribuições em quase todos os campos das Humanidades e uma perspectiva que consegue ser simultaneamente original e bem enraizada em uma tradição intelectual específica. De fato, atualmente já é possível considerar Alexander Dugin como um dos mais importantes filósofos vivos, com argumentos razoáveis para categorizá-lo como o maior da atualidade.

(Se formos usar a régua de influentes e renomadas nulidades, como Chomsky, Butler, Habermas, Zizek e Singer, que pelo menos hoje não fazem mais do que papagaiar peças narrativas vinculadas ao pensamento hegemônico, a consideração não é absurda).

Bem, para além disso e do fato de Dugin ser um pensador banido, censurado, perseguido e ameaçado em vários países, por que um brasileiro deveria ler Dugin?

De primeira, porque Dugin é o primeiro pensador a fundamentar filosoficamente e de forma detida e formal uma teoria da multipolaridade. E isso nos interessa. Não interessa ao Brasil um mero aumento em nossa participação no PIB mundial, um incremento em nossas trocas comerciais, maior status diplomático, mas a afirmação de nossa singularidade civilizacional absoluta, com fundamentação que transcende as meras circunstâncias e conjunturas passageiras e se enraiza na própria ontologia de nosso Ser político. E com Dugin, o Brasil adquire esse status de coração de uma civilização única, jovem e fértil, a ibero-americana, afirmando uma multipolaridade que emerge como o concerto entre os líderes de Grandes Espaços que encarnam, cada um, um universo absolutamente particular no pluriverso humano.

Ademais, Dugin nos recorda da natureza imperial do Brasil e o fato de que ela independe de nossa forma de governo atual. A concretização das ambições geopolíticas do Brasil, para Dugin, depende da autorrealização dessa natureza imperial para afirmar o Brasil como Império, não mais Estado-Nação, o que implica uma ampliação de nossos deveres e prerrogativas, bem como a percepção da configuração interna a que estamos destinados. Essa contribuição de Dugin para a filosofia política, com a superação do Estado-Nação por uma visão superior, antitética ao globalismo, é essencial para a ascensão do Brasil.

Em um sentido etnossociológico, Dugin traz a ideia de que determinados povos, como o nosso, são macroétnicos. Ou seja, eles não são homogêneos e não se originam de uma única raiz étnica, mas são compostos pela síntese entre várias etnias e, não raro, historicamente continuam aglutinando etnias em sua órbita. Por isso, os povos macroétnicos usualmente são os mais propensos à autorrealização política sob a forma imperial, que é o tipo de Estado que aglutina e atrai formas políticas menores para sua órbita, sem negar sua singularidade. O povo brasileiro é macroétnico e isso fica claro com a etnossociologia duginiana.

Agora, para construirmos um caminho para o futuro o Brasil não pode seguir insistindo na distinção direita/esquerda, tampouco nos voltarmos para o comunismo ou fascismo e, pior ainda, buscar alguma microvariação de liberalismo. É aí que entra o papel da Quarta Teoria Política, uma caixa de ferramentas teóricas cuja função é permitir a construção de uma nova teoria política brasileira, enraizada na própria história política do Brasil: o que aponta para o trabalhismo como um dos fundamentos principais.

Com Dugin, visualizamos a onipresença do liberalismo em sua face pós-moderna e percebemos como ele é indissociável do projeto transumanista da elite global e seu Grande Reset.

Esse enraizamento na história nos conduz ao tema da investigação noológica do Brasil. Ou seja, à reflexão sobre o ser nacional. Pela Noomaquia duginiana, essa análise noológica se baseia na interpretação da interação entre os logoi que Dugin enumera em 3, cada um recebendo o nome de uma antiga divindade helênica: Logos de Apolo, Logos de Dioniso e Logos de Cibele. A reflexão sobre o Ser brasileiro passa pelo entendimento de como cada uma das 3 raças fundadoras lidam com esses logoi, e como cada um desses logoi se vincula à festividades e tradições nacionais: do caráter apolíneo do mito sebastianista à dimensão dionisíaca do Carnaval.

Como heideggeriano, Dugin insiste no papel do Dasein comunitário como sujeito da política. O Dasein ou Ser-aí (ou seja, a Pessoa), sendo projeção ou direcionalidade mais que uma “essência”, e o Ser-com sendo parte indissociável da existência do Ser-aí (daí a dimensão política intrínseca ao homem), fundar a política no Dasein do Povo brasileiro significa mobilizá-lo comunitariamente em prol de um horizonte futuro, de um projeto comum.

Como platonista, Dugin recorda que, por mais que devamos ser pragmáticos e nos atentar às conjunturas, a finalidade da política é a realização do Bem e da Justiça, e que essa realização do Bom e do Justo na politeia exige, entre outras coisas, a reordenação cósmica da comunidade, com cada pessoa recebendo o seu lugar devido conforme sua essência. Isso possui implicações revolucionárias para que pensemos o Brasil não já de amanhã, mas de séculos adiante, como espelho político de uma ordem divina, com cada homem podendo descobrir e despertar a sua vocação paidêuticamente e, com base nela, recebendo o lugar social no qual possa melhor contribuir para o bem comum.

Poderíamos nos alongar e ir muito além, mas fica evidente como Dugin oferece caminhos originais, interessantes e muito além do senso comum e das preocupações mundanas para pensar o Brasil em toda a sua grandeza.

Portanto, leiam Dugin.

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